1 Indo ao templo para orar
1 Pedro e João subiam juntos ao templo à hora da oração, a nona.
Dois dos apóstolos, Pedro e João, vão juntos ao templo. Embora sejam cristãos por meio do batismo com o Espírito Santo, eles ainda aderem a certos costumes judaicos. Um desses costumes é ir ao templo na hora da oração.
O primeiro período do cristianismo é uma época de transição. Por meio do ministério do apóstolo Paulo, cujo chamado é descrito mais tarde em Atos dos Apóstolos, a verdade sobre o cristianismo é totalmente revelada. Isso fará com que os corações se desprendam do judaísmo para que possam se unir ao Senhor glorificado no céu. Para todos aqueles que ainda estão lutando para abandonar o judaísmo, Deus fará a ruptura final no ano 70, quando entregará Jerusalém à devastação dos romanos. Como resultado, não será mais possível visitar o templo.
Eles irão ao templo como uma casa de oração (Isa 56:7; Luc 19:46). A hora da oração, a nona (três horas da tarde, de acordo com nosso horário), era a hora em que o holocausto da noite era oferecido. É a hora em que Elias recebeu uma resposta à sua oração (1Rei 18:36-38) e a hora em que Daniel recebeu uma resposta à sua oração séculos mais tarde (Dan 9:21). É também a hora em que o Senhor Jesus não recebeu resposta quando clamou (Mat 27:46). Nessa hora, Pedro e João sobem ao templo para revelar o poder do nome do Senhor Jesus diante das multidões. É muito bonito ver que o primeiro milagre descrito ocorre em conexão com a oração.
2 - 7 A cura de um homem paralítico
2 E era trazido um varão que desde o ventre de sua mãe era coxo, o qual todos os dias punham à porta do templo chamada Formosa, para pedir esmola aos que entravam. 3 Ele, vendo a Pedro e a João, que iam entrando no templo, pediu que lhe dessem uma esmola. 4 E Pedro, com João, fitando os olhos nele, disse: Olha para nós. 5 E olhou para eles, esperando receber alguma coisa. 6 E disse Pedro: Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho, isso te dou. Em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levanta-te e anda. 7 E, tomando-o pela mão direita, o levantou, e logo os seus pés e tornozelos se firmaram.
Enquanto a congregação estava reunida em unidade no templo todos os dias, um homem paralítico foi levado à porta do templo, que era chamada de “a Formosa”. O nome da porta – uma expressão simbólica para a esplêndida adoração dos judeus – contrasta fortemente com a aparência desse homem aleijado, que é um retrato da verdadeira condição dos judeus. Ele não podia fazer nada e dependia da bondade dos homens que o levaram ao templo. E depois que foi colocado lá, ele dependia da misericórdia dos visitantes do templo. Quando os homens estão em um estado de espírito religioso, geralmente são mais generosos. Portanto, o lugar que ele ocupa na porta do templo não é uma má escolha. Ele deve ter se sentado ali por muitos anos, pois tem mais de quarenta anos de idade (Atos 4:22).
Esse homem lembra o enfermo no tanque de Betesda, que já estava com sua doença há trinta e oito anos (Joã 5:5). Assim como ele, esse homem é um retrato de Israel sob a lei. O povo havia vagado pelo deserto sob a lei por cerca de quarenta anos e nunca teria alcançado a Terra Prometida com a bênção prometida por causa da lei. Somente a graça de Deus os levou à terra. Assim, o homem doente em Betesda foi curado pelo Senhor e, portanto, o homem paralítico aqui também será curado em nome do Senhor.
Esse homem está tão perto do lugar santo e, ao mesmo tempo, tão longe dele. E o Senhor Jesus não esteve lá muitas vezes? Será que ele não o viu quando entrou nos edifícios do templo? De qualquer forma, ele não falou com Ele.
Sem que o homem perceba, o fim de sua miséria está próximo quando Pedro e João aparecem entre os visitantes do templo. Quando ele os vê prestes a entrar no templo, também lhes pede esmolas. Será que ele não se aproximou de Pedro e João antes, já que eles haviam estado lá tantas vezes com o Senhor Jesus? Não sabemos. Mas sabemos que, dessa vez, seu pedido de esmola lhe traz muito mais do que ouro e prata. Somente Deus sabe por que alguns passam ao largo do evangelho por muitos anos e são salvos em um determinado dia.
Para Pedro e João, o pedido de esmola é a ocasião para tornar conhecido o poderoso nome de Jesus Cristo. Pedro olha para ele fixamente. Ele agora só vê o homem paralítico. Ele não vê tanto sua necessidade, mas sim a oportunidade de glorificar o Senhor Jesus. João faz o mesmo. Ele também está preocupado apenas com a glorificação de Cristo. Embora seja Pedro quem fala e age, João tem a mesma opinião que ele. Toda a atenção deles está voltada para esse homem.
Pedro agora pede que ele olhe para eles. O homem deve desviar o olhar de tudo ao seu redor e olhar somente para os dois apóstolos que estão diante dele em nome do Senhor Jesus. Ao olhar para eles, ele está, na verdade, olhando para Ele. Ele não se dá conta disso, mas Pedro e João estão bem cientes de que estão ali na autoridade do Senhor. É por isso que Pedro também pode dizer: “ Olha para nós!” Não se trata deles, mas daquele que eles representam.
O homem faz o que lhe pedem e olha para eles. A única coisa que ele espera é uma oferta. Isso é o máximo que seus pensamentos alcançam. Nossos pensamentos muitas vezes também não vão muito além disso. Estamos mais concentrados nas riquezas terrenas do que nos tesouros celestiais.
Então Pedro diz palavras que testemunham o que ele não tem e o que tem. Ele não tem prata nem ouro, mas tem a autoridade do Senhor Jesus para curar. No Antigo Testamento, a prata e o ouro eram meios que podiam ser usados para a reconciliação. No entanto, Pedro nos lembra em sua primeira carta que a verdadeira salvação não vem por meio de prata ou ouro, mas pelo precioso sangue de Cristo (1Ped 1:18,19). O nome de Cristo é o novo meio que torna a restauração possível e também dá o poder de entrar no santuário, como vemos aqui.
Em vez de riqueza terrena, Pedro tem uma fonte de felicidade e força no céu, em Jesus Cristo. Ele usa essa fonte para dar a esse homem uma bênção que vai muito além do bem-estar terreno. Em nome de Jesus Cristo, ele o instrui a se levantar e andar. Pedro chama o Senhor Jesus de “o Nazareno”, o que se refere às suas origens na desprezada cidade de Nazaré. Esse nome ressoa no pátio do templo como o nome que dá esse poder de curar. Os líderes religiosos pensaram que haviam se livrado Dele, mas Ele revela um poder do céu ainda maior do que durante Sua vida na Terra.
Uma expressão de poder como essa por meio de palavras faladas é rara hoje em dia. Muitos cristãos sinceros de hoje estão ocupados juntando prata e ouro para a obra do Senhor, enquanto o poder do nome do Senhor permanece em grande parte sem uso. Muitos dos que “curam” hoje falam o nome de Jesus com muito poder para curar, mas não conseguem repetir as primeiras palavras de Pedro (“prata e ouro não tenho”).
Pedro não apenas fala palavras de autoridade em nome do Senhor Jesus, mas também pega o homem pela mão direita e o ajuda a se levantar. Aqui, novamente, vemos a impressionante conexão entre a ação divina e a humana. Deus faz o que não podemos fazer (fortalecer seus pés e tornozelos), e nós devemos fazer o que podemos fazer (pegá-lo pela mão e levantá-lo).
8 - 11 O efeito da cura
8 E, saltando ele, pôs-se em pé, e andou, e entrou com eles no templo, andando, e saltando, e louvando a Deus. 9 E todo o povo o viu andar e louvar a Deus; 10 e conheciam-no, pois era ele o que se assentava a pedir esmola à Porta Formosa do templo; e ficaram cheios de pasmo e assombro pelo que lhe acontecera. 11 E, apegando-se ele a Pedro e João, todo o povo correu atônito para junto deles no alpendre chamado de Salomão.
O resultado é imediato. A recuperação é completa e verificável. Não é necessário formular explicações médicas. O homem se levanta, fica de pé e anda. Seus primeiros passos o levam ao templo junto com Pedro e João. Ele sempre esteve sentado à porta, mas agora entra. Ele faz isso junto com outros. Ao mesmo tempo, ele expressa pessoalmente sua gratidão. Ele corre, pula e louva a Deus. Deus recebe a honra.
O que ele faz é um testemunho para todas as pessoas que o veem caminhando e o ouvem louvando a Deus. O povo o conhece. Ele era visto diariamente no templo, porque se sentava lá todos os dias e pedia esmolas. Algumas pessoas talvez lhe dessem algo por pena, mas ninguém conseguia libertá-lo da paralisia. É claro que todos se consolavam com o pensamento de que ele não podia ser ajudado. Mas é exatamente esse caso, que é desesperador para homens, que se torna um grande testemunho do nome do Senhor Jesus.
O homem curado segura Pedro e João para que fique claro para todos por quem ele foi curado. Isso também mostra o desejo compreensível de um jovem convertido de permanecer com aquele por quem foi convertido. Ao mesmo tempo, é prova de uma nova vida quando ele busca a comunhão com outros que o apóiam espiritualmente e o ajudam a crescer como cristão. O homem quer pertencer a Pedro e João e ficar com eles.
Sua cura atrai uma multidão. Todo o povo vai ao templo, ao pórtico de Salomão. Foi no pórtico de Salomão que o Senhor andou quando Lhe perguntaram se Ele era o Cristo (Joã 10:23), e foi também onde os apóstolos se reuniram (Atos 5:12). É um lugar de encontro. O povo está maravilhado com a cura. Também é um milagre tremendo ver agora andando por ali Aquele que eles conheciam há mais de 40 anos como um paralítico no meio deles.
12 - 16 Pedro prega Cristo
12 E, quando Pedro viu isto, disse ao povo: Varões israelitas, por que vos maravilhais disto? Ou, por que olhais tanto para nós, como se por nossa própria virtude ou santidade fizéssemos andar este homem? 13 O Deus de Abraão, e de Isaque, e de Jacó, o Deus de nossos pais, glorificou a seu Filho Jesus, a quem vós entregastes e perante a face de Pilatos negastes, tendo ele determinado que fosse solto. 14 Mas vós negastes o Santo e o Justo e pedistes que se vos desse um homem homicida. 15 E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dos mortos, do que nós somos testemunhas. 16 E, pela fé no seu nome, fez o seu nome fortalecer a este que vedes e conheceis; e a fé que é por ele deu a este, na presença de todos vós, esta perfeita saúde.
Pedro usa o interesse por esse milagre para concentrar a atenção naquele que o realizou, o Senhor Jesus. Este milagre aconteceu em vista Dele. Ao contrário de Simão, o feiticeiro, que dizia ser alguém grande (Atos 8:9), Pedro rejeita toda honra (veja também Atos 10:26; 14:13-16) e a dá ao Senhor Jesus (cf. Apo 19:10). Os homens são rápidos em honrar uma pessoa visível, uma criatura, e não o Deus invisível, o Criador. Essa é a essência da idolatria. A honra é devida somente ao Filho de Deus. Assim como Deus O honra, nós também devemos honrá-Lo.
Pedro começa seu terceiro discurso corrigindo uma falsa impressão. Ele já havia começado com isso em seu segundo discurso no capítulo 2. Lá ele falou sobre a falsa impressão de que os homens estavam bêbados. Aqui ele contradiz a falsa impressão de que eles haviam curado o homem. Pedro ressalta que não foi por meio da força deles que o homem agora pode andar.
Ele acrescenta que o temor de Deus deles também não é a causa da cura. Eles não têm nenhum tipo de benefício com Deus por causa de sua reverência a Deus, como se Deus fosse lhes dar um pouco mais de honra que é devida somente a Ele. Ele diz que nada neles contribuiu para sua recuperação. Na verdade, tudo se deve exclusivamente à obra de Jesus Cristo, sobre quem ele fala no que se segue.
Ele faz isso apontando para a estima que Deus tem por Ele. Ele chama Deus pelo nome que lembra as promessas que Ele fez a cada um dos patriarcas individualmente. As promessas têm como tema central o fato de que Ele enviaria Seu Filho, o Cristo, para cumprir todas as promessas. Bem, Deus de fato O enviou. Pedro chama o Senhor Jesus de “Seu servo Jesus” (veja também Isa 42:1). Isso indica que o Senhor Jesus serviu a Deus na Terra.
Mas que contraste há entre a estima que Deus tem por Seu Filho e a estima que o povo tem por Ele! O povo não O reconheceu como o Cristo de Deus, mas O entregou às autoridades como um criminoso. Pilatos, o representante dessa autoridade, testemunhou várias vezes que não encontrou nenhuma culpa nEle e, portanto, julgou que Ele deveria ser libertado. Mas o povo não estava aberto a argumentos. Em um ódio cego, negaram seu Messias, o Cristo de Deus, na presença das nações, na pessoa de Pilatos. Eles não queriam ter nada a ver com Ele e O rejeitaram.
E agora tudo estava perdido? Não, pois Deus levantou e glorificou Seu servo Jesus, que O serviu tão perfeitamente (Isa 52:13). Dessa forma, Pedro O apresenta ao povo mais uma vez.
É notável como Pedro acusa duas vezes o povo de ter negado o Senhor Jesus, enquanto algumas semanas antes ele mesmo O havia negado três vezes. No entanto, ele confessou sua negação com vergonha e lágrimas e recebeu o perdão do Senhor por isso. Portanto, ele está livre diante de Deus para confrontar o povo com esse pecado. Ele faz isso para que as pessoas se arrependam, confessem seus pecados e se reconciliem com Deus, assim como Pedro.
Ele fala sobre o Senhor Jesus como “o Santo e o Justo”. Como o “Santo”, Ele viveu na Terra completamente separado do mundo e para Deus. Ele viveu somente para Deus. Isso também fez Dele o “justo”. Ele sempre fez tudo de acordo com o que era correto perante Deus e o homem.
Apesar de Sua vida completamente dedicada a Deus e ao homem, por meio da qual somente a bondade e a graça surgiram para eles, eles optaram por um assassino, alguém que tira a vida de outros. Eles pediram a Pilatos que lhes “desse” esse homem, enquanto rejeitavam a grande dádiva de Deus em Seu Filho. Eles preferiram viver com um assassino a viver com o autor da vida. Eles mataram a fonte e o doador da vida e, assim, cortaram todos os caminhos da vida para si mesmos.
Pedro coloca as ações do povo com o Filho de Deus diante de seus corações e consciências com muito mais ênfase do que no capítulo 2. Mas Pedro também mostra que Deus tem Seu próprio plano e que Ele triunfa sobre o ódio e as más ações do homem. Não é o homem, mas Deus que tem a última palavra, e de uma forma que silencia o homem.
Deus ressuscitou Seu Filho dentre os mortos e o apresentou a eles mais uma vez. Deus não apenas lidou com Ele de uma maneira completamente diferente da que eles fizeram, mas, em alguns aspectos, desfez o ato deles e até mesmo o relacionou com consequências especiais. Essa é uma grande graça e uma prova da perfeita bondade de Deus. Pedro explica que ele e João são Suas testemunhas. Em seu julgamento do Senhor Jesus, ele toma publicamente e incondicionalmente o lado de Deus.
Depois que Pedro reprovou o povo por seus pecados e descreveu o que Deus fez com seu Filho, ele aponta para o homem que foi curado. Eles o veem, eles o conhecem. Eles sabem como ele estava e veem como ele está agora. A mudança em sua situação é o resultado da fé no nome do Senhor Jesus. O que eles veem e o que Pedro aponta para eles, Pedro os coloca em conexão direta com o céu e com Aquele que é glorificado ali. Eles podem ver além do homem, diretamente para cima, pois lá está Ele, que realizou o que eles estão vendo.
A fé é o princípio poderoso pelo qual o Cristo glorificado se torna conhecido na Terra. Por meio da fé no Senhor Jesus, o homem recebeu “saúde perfeita”. Cristo não faz um trabalho pela metade. Todos eles ficam parados e veem que o homem está completamente curado por meio do nome de Jesus Cristo, o nome daquele que eles negaram e assassinaram.
17 - 21 Chamado ao arrependimento e à conversão
17 E agora, irmãos, eu sei que o fizestes por ignorância, como também os vossos príncipes. 18 Mas Deus assim cumpriu o que já dantes pela boca de todos os seus profetas havia anunciado: que o Cristo havia de padecer. 19 Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela presença do Senhor. 20 E envie ele a Jesus Cristo, que já dantes vos foi pregado, 21 o qual convém que o céu contenha até aos tempos da restauração de tudo, dos quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas, desde o princípio.
As acusações são certas. O juízo de Deus é merecido. Mas então Pedro aponta uma saída. Guiado pelo Espírito Santo, ele pode dizer ao povo que eles cometeram seu terrível ato “por ignorância” (cf. 1Cor 2:8) e, portanto, pode chamá-los ao arrependimento e à conversão. Pedro pode dizer isso com base na intercessão do Senhor Jesus na cruz: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Luc 23:34). Paulo também recebeu misericórdia com base nisso (1Tim 1:13).
Seu pecado é visto como homicídio culposo, não como assassinato. De acordo com a lei, alguém culpado de homicídio culposo poderia ser morto pelo vingador do sangue. No entanto, se o homicida chegasse a tempo a uma cidade de refúgio, ele estaria seguro lá (Núm 35:9-15). Dessa forma, o povo ainda pode se refugiar no Senhor Jesus e, assim, escapar do julgamento. Em vez de julgamento, elas receberiam a bênção prometida, como Pedro está prestes a dizer. Mas primeiro ele fala sobre o conselho de Deus. Deus usou o que eles haviam feito em sua maldade com Cristo para cumprir o que Ele havia falado por meio de todos os profetas. Todos os profetas falaram sobre o sofrimento de Cristo.
Aqui, novamente, vemos os dois lados que também vimos no capítulo anterior (Atos 2:22,23). Por um lado, vemos como o homem revela sua total depravação ao rejeitar a bondade de Deus revelada em Cristo. Por outro lado, descobrimos que Deus sabia disso de antemão e o incluiu em seus planos e até mesmo o usou para cumprir seus planos. Nós, como criaturas, não podemos unir os dois lados, mas é exatamente por isso que Deus também é Deus, e nós continuamos sendo criaturas com a capacidade limitada de raciocínio que isso implica. Por meio do ato pecaminoso deles, Deus cumpriu seu propósito em relação ao sofrimento de Cristo.
O fato de que eles são completamente responsáveis por seus pecados é demonstrado no apelo de Pedro ao povo para que se arrependa e se converta. Ele lhes mostrou claramente do que eram culpados. Isso deve levá-los ao arrependimento, à percepção de que pecaram. A conversão está intimamente ligada a essa percepção e à confissão correspondente. A conversão é uma mudança de pensamento em relação a Deus e ao Senhor Jesus. O arrependimento é a convicção interior da própria culpa, a percepção e o reconhecimento de que eu pequei.
A conversão é uma mudança em meu julgamento do que Deus disse. Em primeiro lugar, alguém rejeita o que Ele disse em Sua Palavra e o que Ele concedeu em Cristo. Aqueles que se arrependerem, perceberem e confessarem seus pecados acreditarão na Palavra de Deus e aceitarão o dom de Deus em Cristo. Aqueles que se arrependem e se convertem podem saber que seus pecados foram apagados. Tudo o que estava entre ele e Deus foi removido. A barreira foi removida. Isso abre caminho para uma vida de refrigério que vem a eles “da face do Senhor”, ou seja, da presença do Senhor.
O que pode ser aplicado ao indivíduo se aplica aqui, em primeiro lugar e acima de tudo, a todo o povo, pois é a ele que Pedro está falando. Por “tempos de refrigério” ele quer dizer o tempo do reino de mil anos, no qual seu povo desfrutará de todas as bênçãos de Deus na Terra. Então, o rosto do Senhor não estará mais voltado para eles com ira (Slm 34:16), mas seu rosto brilhará como o sol (Mat 17:2). Seu povo poderá se aquecer no calor de seus raios e desfrutar de todas as bênçãos da vida de acordo com sua promessa no reino da paz (Pro 16:15).
O retorno de Cristo Jesus para cumprir isso dependia (e ainda depende) da conversão dos judeus. Pedro deixa claro que Deus está ansioso para enviar Seu Cristo, que ele diz ser o “Cristo preordenado” para eles. Ouvimos aqui o grande amor de Deus por Seu povo.
Não foi por acaso que Deus enviou Cristo ao Seu povo. Aqui Deus lhes oferece mais uma vez esse Cristo que havia sido predestinado para eles, que não é outro senão o “Jesus” que eles haviam rejeitado. Que graça contínua de Deus que faz isso apesar da rejeição de seu Cristo! Ele pode fazer isso – como eu disse – por causa da intercessão do Senhor Jesus na cruz.
Vemos como Deus faz todo o possível para levar a nação ao arrependimento a fim de que Ele possa lhes dar as bênçãos prometidas. Só então, quando eles também rejeitam um Senhor glorificado, assim como O rejeitaram em Sua humilhação, é que o julgamento de Deus vem sobre o povo. Para evitar isso, Deus ainda está procurando uma maneira de enviar Seu Filho, afinal, para que os tempos de restauração de todas as coisas possam começar.
Cristo foi levado para o céu. Rejeitado pela Terra, o céu teve de recebê-Lo. O céu não fez isso com relutância, mas – com relação ao propósito pelo qual Ele veio à Terra, ou seja, estabelecer o reino de Deus lá – antes do tempo.
Mesmo assim, o objetivo original será alcançado. O momento da restauração de todas as coisas aponta para o reino de paz de 1000 anos. Durante o reino de paz, tudo na criação será restaurado de acordo com a situação que Deus tinha em mente quando criou o céu e a terra. Deus falou repetidamente sobre essa situação pela boca de Seus profetas. Ele indicou isso com antecedência.
Quando Seu Filho veio, esse tempo poderia ter chegado se Israel O tivesse aceitado. Mas Ele foi rejeitado. No entanto, isso não significa que Deus não cumprirá Seu plano. Por meio da boca de Pedro, Deus se oferece para cumprir Seu plano. Isso acontecerá se o povo como um todo ainda se converter. Sabemos que o povo não se converteu. Mas mesmo isso não significa que Deus não cumprirá mais seu plano. Ele foi adiado novamente e será cumprido no fim dos tempos.
22 - 26 O Profeta Despertado por Deus
22 Porque Moisés disse: O Senhor, vosso Deus, levantará dentre vossos irmãos um profeta semelhante a mim; a ele ouvireis em tudo quanto vos disser. 23 E acontecerá que toda alma que não escutar esse profeta será exterminada dentre o povo. 24 E todos os profetas, desde Samuel, todos quantos depois falaram, também anunciaram estes dias. 25 Vós sois os filhos dos profetas e do concerto que Deus fez com nossos pais, dizendo a Abraão: Na tua descendência serão benditas todas as famílias da terra. 26 Ressuscitando Deus a seu Filho Jesus, primeiro o enviou a vós, para que nisso vos abençoasse, e vos desviasse, a cada um, das vossas maldades.
O fato de que Deus fará com que os tempos de restauração de todas as coisas amanheçam tem tudo a ver com o que Pedro se refere novamente quando cita Moisés, um dos “santos profetas da antiguidade” (Deu 18:15-19; Luc 1:70). Assim como Davi, que Pedro citou no capítulo 2, os judeus também admiravam muito Moisés. Moisés falou sobre um profeta que Deus levantaria da mesma forma que Deus o havia levantado.
Deus levantou Moisés como profeta para seu povo em uma época em que o povo estava na escravidão e em grande necessidade. Foi o que aconteceu com o Senhor Jesus. Assim como Moisés foi levantado no meio de seus irmãos, o Senhor também entrou no meio de seus irmãos ao nascer como israelita. Na citação, Moisés nos convida a ouvi-Lo. Pedro apresenta isso aos seus ouvintes.
Além das semelhanças entre Moisés e o Senhor Jesus como profeta, há também uma grande diferença. Moisés foi um instrumento que transmitiu as palavras de Deus. Mas nem tudo o que Moisés dizia eram as palavras de Deus. O que o Senhor Jesus diria e de fato disse, no entanto, foi tudo exclusivamente a palavra de Deus. Por isso Moisés diz que o povo deveria ouvi-Lo “em tudo o que Ele vos falar”. Moisés também acrescenta a severa advertência de que quem não ouvisse o profeta seria excluído do povo. Como resultado, todos esses são excluídos para sempre da bênção que será a porção do povo quando Ele reinar.
E não foi apenas Moisés que falou sobre a vinda desse profeta, o Senhor Jesus. Desde Samuel, o primeiro profeta chamado por Deus entre Seu povo, Deus tem apontado para a vinda de Seu Filho. Todos os profetas que vieram depois de Samuel fizeram o mesmo. Pedro aponta para o povo sua posição privilegiada como filhos dos profetas. Ele também quer dizer que eles devem seguir os caminhos que esses profetas lhes mostraram, pois somente assim poderão receber a bênção de Deus. Esse caminho é sempre o caminho do arrependimento e da conversão.
Além disso, eles não são apenas filhos dos profetas, mas também filhos da aliança que Deus fez com seus pais e na qual Ele lhes prometeu Sua bênção. Nessa aliança, Deus anunciou a bênção para os descendentes físicos de Abraão; esse é o povo ao qual Pedro está se dirigindo aqui. Ao mesmo tempo, Deus também prometeu a bênção para todas as famílias da Terra por meio dos descendentes de Abraão (Gên 12:3; 18:18; 22:18; 26:4; Gal 3:8). A bênção de Deus no reino de paz se espalha por Israel para toda a Terra. É por isso que Deus enviou o Senhor Jesus, a quem Pedro novamente chama de “servo” de Deus (verso 13), para eles em primeiro lugar.
“Ressuscitando” não se refere à ressurreição, mas ao surgimento do Senhor Jesus como homem na terra, seu nascimento. Quando se trata da ressurreição da morte, não lemos que Deus O ressuscitou, mas que Ele mesmo foi ressuscitado. Quando se trata da obra de Deus na ressurreição, lemos que Deus “o ressuscitou”. “Ressuscitar”, portanto, refere-se à primeira vinda do Senhor Jesus à Terra, ao Seu nascimento e à Sua vida, conforme descrito nos Evangelhos.
A bênção que Deus quer dar com o envio do Cristo glorificado é afastar o povo de sua maldade. A maldade impede a bênção. Quando eles confessam essas maldades, esse obstáculo é removido. Essa já é uma bênção tremenda que, ao mesmo tempo, abre a porta para a bênção ainda maior do reino de paz.