1 - 5 O alistamento
1 E aconteceu, naqueles dias, que saiu um decreto da parte de César Augusto, para que todo o mundo se alistasse. 2 (Este primeiro alistamento foi feito sendo Cirênio governador da Síria.) 3 E todos iam alistar-se, cada um à sua própria cidade. 4 E subiu da Galiléia também José, da cidade de Nazaré, à Judéia, à cidade de Davi chamada Belém (porque era da casa e família de Davi), 5 a fim de alistar-se com Maria, sua mulher, que estava grávida.
Após os vários anúncios de Deus por meio de um anjo em preparação para o envio de seu Filho, isso acontece: Deus envia “seu Filho em semelhança da carne do pecado” (Rom 8:3). Ele apresenta seu Filho primogênito ao mundo (Heb 1:6). Nesses dias de preparação, Deus não apenas fala por meio de um dos anjos mais poderosos do céu, Gabriel, mas também trabalha por meio do homem mais poderoso da Terra naquela época. Gabriel fez de bom grado o que Deus lhe disse para fazer. O imperador Augusto não tem a menor ideia de que Deus o está usando.
O imperador Augusto emite uma ordem para que todo o território que ele governa seja registrado, por causa dos impostos pendentes. O fato de esse imperador ter o poder de fazer isso ilustra o estado das coisas, tanto em Israel quanto no mundo. O imperador Augusto governa Israel. Isso mostra que a supremacia está nas mãos das nações, como Daniel anunciou (Dan 2:37; cf. Nee 9:36), e mostra que o trono de Deus não está em Jerusalém.
Mas vemos de forma impressionante quem realmente governa lá. O governante pagão Augusto não conta com Deus de forma alguma. Ele quer exercer domínio sobre todos os homens. Ele busca sua própria glória e riqueza para si mesmo e não a glória de Deus. Vemos como Deus usa o plano arrogante desse governante pagão para cumprir seu plano.
Quando se trata da importância e da glória do Senhor Jesus, o homem Augusto, com todo o seu poder e glória imperial, é apenas uma ferramenta na mão de Deus, que Ele usa para cumprir Seus conselhos. O fato de que Deus realmente tinha Sua mão nisso é demonstrado pelo fato de que o anunciado alistamento não ocorreu até um aviso prévio, depois que Deus cumpriu Seu conselho a respeito do nascimento de Seu Filho. Deus inclina o coração dos reis como ribeiros de águas ((Pro 21:1), para que façam o que Lhe agrada. Como é grandioso, também sabermos que Deus está acima de tudo, e realiza todas as coisas de acordo com o conselho de Sua vontade, e executa Seus planos gloriosos para a bênção de Seu povo.
Ninguém resiste à ordem do imperador. Todos partem para a cidade onde nasceram. Todos devem obedecer. Tal é o poder do imperador que reside na distante Roma. Isso mostra a total humilhação e servidão do povo de Deus. Por causa de seus pecados, eles são servos dos gentios, de corpo e alma (Nee 9:36-37).
Agora fica clara a verdadeira intenção de Deus com esse alistamento, que o imperador ordenou. A ordem também se aplica aos habitantes da Judeia. É por isso que José também parte. Ele é apenas um servo do imperador e deve fazer o que ele diz. Esse descendente do rei Davi deve obedecer a essa ordem assim como qualquer outro israelita. Nenhuma exceção é feita para ele. Mas somente por meio de sua obediência a essa ordem é que o maravilhoso conselho de Deus é cumprido. Com isso, o Rei-Salvador nasce na cidade onde esse evento deve ocorrer de acordo com o testemunho de Deus.
Lucas descreve em detalhes de onde José vem, para onde ele vai e por que ele vai para lá. Para que José fosse para lá, Deus colocou em movimento toda a Terra, que estava sob o domínio de um governante pagão. Deus poderia muito bem ter dito a José para se mudar para Belém por um curto período. Mas as circunstâncias em que a ação de Deus ocorre têm o objetivo de nos dar a impressão da supremacia de Deus, que Ele usa para o bem de Seu povo. Ele executa Seu plano sem que as pessoas, e às vezes até mesmo os Seus, saibam como Ele age. Posteriormente, os Seus veem como Ele direcionou tudo para o bem deles. José ainda não está casado com Maria, mas está claro que eles pertencem um ao outro. Maria está grávida de acordo com a palavra do anjo. Ela está levando o Senhor Jesus.
6 - 7 O nascimento do Senhor Jesus
6 E aconteceu que, estando eles ali, se cumpriram os dias em que ela havia de dar à luz. 7 E deu à luz o seu filho primogênito, e envolveu-o em panos, e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na estalagem.
O Senhor Jesus passou pelo desenvolvimento no ventre de Maria pelo qual todo ser humano passa. Esse processo levou nove meses. Então chegou o dia em que o Salvador pôde nascer. O nascimento de Cristo, sua vinda ao mundo, é um evento de significado sem precedentes para a fé. Deus se torna homem e, assim, participa de sua criação. O Criador visita sua criação de uma forma que somente Deus poderia conceber e realizar. O Filho de Deus se humilha e se torna homem (Flp 2:7-8).
Quão completamente diferente é o Senhor de Teudas, por exemplo, que disse “ser alguém” (Atos 5:36). Cristo não assume a forma de um anjo e visita as pessoas dessa maneira, como havia feito com mais frequência. Ele também não vem como um homem adulto, como Adão. Ele também não vem com um exército de anjos para derrubar homens poderosos dos tronos e sentar-se neles por direito. Não, Ele nasce como um bebê que precisa de ajuda. Existe algo mais fraco do que um bebê recém-nascido? Assim, o Senhor vem e participa, como uma criança, de todas as fraquezas e condições da vida humana.
E onde Ele nasce? Não em um palácio, mas em um estábulo. Como resultado do alistamento, a hospedaria está cheia. Os ricos garantiram um lugar lá, então Cristo nasceu em um estábulo. Ninguém quer dar lugar à grávida Maria, que carrega o Salvador em seu ventre. Ninguém dá atenção a ela e à criança em seu ventre. Tudo atesta a pobreza e o fato de ela ser desconhecida. Isso também prova que não há lugar para Deus no mundo, nem mesmo para aquilo que é de Deus. Isso mostra ainda mais perfeitamente o amor que O trouxe à Terra.
A palavra “estalagem” usada aqui significa “alojamento para hóspedes”. É um cômodo simples, no meio, com um lugar para o gado. A palavra ocorre mais uma vez. O Senhor Jesus a usa quando fala do local onde comerá a Páscoa com Seus discípulos. Lá ela é traduzida como “aposento” (Mar 14:14). Ele o chama de “meu aposento”. Na hospedaria deste mundo não há lugar para Ele e também para os crentes. Mas há uma hospedaria onde os crentes são bem-vindos, um cenáculo onde Ele convida os Seus para estarem com Ele. Essa é a Sua própria hospedaria.
8 - 12 Grande alegria para os pastores
8 Ora, havia, naquela mesma comarca, pastores que estavam no campo e guardavam durante as vigílias da noite o seu rebanho. 9 E eis que um anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. 10 E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo, 11 pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. 12 E isto vos será por sinal: achareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura.
Em Mateus 2, em relação ao nascimento do Senhor Jesus, encontramos os grandes homens do mundo (Herodes) e os dignitários religiosos (os escribas). Mas eles não sabem absolutamente nada sobre o nascimento de Cristo. Ficam sabendo do fato por meio dos sábios do Oriente, fora de Israel. Lucas nos mostra os pastores como os primeiros a ouvir a notícia do nascimento de Cristo. Naquela época, os pastores não eram muito estimados. Certamente, os vigias noturnos eram muitas vezes pessoas sem instrução. No entanto, é para eles que um anjo aparece para lhes falar sobre o tremendo evento do nascimento de Cristo. Os pastores são pessoas que fazem um trabalho que o Senhor Jesus também faz. Ele é o bom pastor. Eles estão ocupados com o rebanho e cuidam dele. Assim, o Senhor Jesus está ocupado com seu rebanho, seu povo.
Pela terceira vez nesses primeiros capítulos, um anjo aparece às pessoas com a mensagem da vinda do Senhor Jesus. Aqui também elas tiveram grande temor. Os anjos sempre causam uma forte impressão. Eles não são aparições agradáveis. Com Zacarias o anjo apareceu, com Maria ele entrou, aqui ele vem até eles. É como se o anjo estivesse ali de repente.
Mas agora há algo mais. Há também a glória do próprio Senhor brilhando ao redor deles. É a glória de Deus na nuvem. A glória de Deus pode chegar às pessoas porque a glória de Deus está presente na criança recém-nascida. Por isso, João pode dizer sobre o Senhor Jesus – afinal, ele e os outros discípulos O viram quando Ele estava com eles: “Vimos a Sua glória” (Joã 1:14). A glória do Senhor chegou ao Seu povo. Na noite escura, a luz gloriosa da presença do Senhor brilha. Ele aparece ao seu povo em gloriosa graça e não para consumi-lo.
O anjo os tranquiliza. Eles não precisam temer, pois ele vem com uma mensagem de grande alegria. Essa alegria não é apenas para eles, mas para todo o povo. Ao mesmo tempo, deve ter sido uma grande alegria para o anjo proclamar essa mensagem. A alegria também é uma característica desse Evangelho. Já ouvimos falar dela duas vezes no início (Luc 1:14,47) e a encontraremos mais vezes. O Evangelho também termina com ela (Luc 24:52). Um Deus que vem aos homens em graça como essa, não pode deixar de trazer grande alegria. Não é que todos os homens tenham parte nisso, mas todos podem ter parte nisso. A oferta é para todos, para todo o povo.
O motivo da alegria é, que “hoje”, neste momento, “nasceu um Salvador”, um Redentor, e não um Juiz ou um Legislador. O anúncio do nascimento do Salvador também não é geral, mas o anjo diz que Ele nasceu “para vós”. Esse grande evento é pessoal para eles. Eles podem saber que são os destinatários da graça de Deus, e todo ser humano pode saber disso. Nesse Salvador, a graça de Deus apareceu, trazendo salvação a todos os homens, sejam eles jovens ou idosos, ricos ou pobres, doentes ou saudáveis, fortes ou fracos. O Salvador nasceu para todos.
O Salvador não é outro senão “Cristo”, que significa “Ungido”. Ele também é o “Senhor”, ou seja, Yahweh, o Deus da aliança. O anjo também menciona o local de seu nascimento. No entanto, ele não diz “Belém”, mas “Cidade de Davi”. Isso significa que Ele é o Filho de Davi prometido, o Rei que estava para nascer. Em todos esses nomes que o anjo menciona, há uma plenitude da glória dAquele que nasceu.
O anjo lhes dá um sinal pelo qual saberão que ele fala a verdade. Os que esperam um Messias como um poderoso herói de guerra, esplendidamente vestido e sentado em um trono, ficarão envergonhados. Dessa forma, Ele certamente voltará um dia. Isso os aterrorizará. Ele também deu um sinal para isso. O sinal ainda está por vir quando Ele aparecer pela segunda vez, e então em majestade (Mat 24:30). O sinal que o anjo dá aqui revela o Espírito com o qual Ele agora vem ao Seu povo e às pessoas em geral. O sinal é que eles encontrarão a pessoa poderosa que o anjo acabou de descrever em uma criança que se encontra na mais pobre das circunstâncias: Ele está envolto em faixas e deitado em uma manjedoura que serve para alimentar os animais.
13 - 14 Glória, paz, prazer
13 E, no mesmo instante, apareceu com o anjo uma multidão dos exércitos celestiais, louvando a Deus e dizendo: 14 Glória a Deus nas alturas, paz na terra, boa vontade para com os homens!
Enquanto o anjo fala assim sobre seu Criador e sobre o milagre de sua encarnação e as circunstâncias em que ela ocorreu, uma multidão de anjos se junta a ele. O céu se abre, por assim dizer, porque não pode ficar em silêncio diante de tal glória. Deus é revelado na carne e é visto aqui pelos anjos que agora veem seu Criador pela primeira vez (1Tim 3:16). Eles têm grande interesse nesse fato. Eles se assemelham aos querubins sobre a arca da aliança, que também, para simbolizar esse grande interesse, têm seus rostos voltados para baixo, olhando para a arca (Êxo 25:20).
Todos os anjos louvam a Deus. Os anjos estão ocupados com esse evento do qual depende o destino do universo e o cumprimento dos conselhos de Deus. Pois Ele escolheu o fraco para envergonhar o forte. Ao enviar a hoste de Seus anjos para esse pequeno grupo desprezado de vigias noturnos, Deus mostra que Ele passa por cima de todas as pessoas de alta posição em Jerusalém.
A vinda do Senhor Jesus torna visíveis três coisas. Em primeiro lugar, Deus no céu recebe honra e glória por meio dela. A glória de Deus é trazida à plena luz. Na vinda de Cristo, o amor, a sabedoria e o poder de Deus são revelados. Nela se manifesta um poder que se eleva acima do pecado e um amor que é revelado em meio ao pecado. É a sabedoria de Deus, que cumpre seu conselho eterno dessa maneira. Essa é uma superioridade do bem sobre o mal, que só é encontrada em Deus e que O glorifica. Ele vence o mal, o pecado, com o bem, com o Senhor Jesus.
O fato de Aquele que revela Deus estar presente na Terra, em segundo lugar, resultará em paz na Terra. Esse é o propósito de Sua vinda, por mais que Ele, por ser rejeitado, também seja causa de discórdia e conflito. O coro celestial não está preocupado com isso. Ele está preocupado com o fato de Sua presença e suas consequências, pois um dia elas serão plenamente realizadas no Reino da Paz. Aquele que realizará isso é a Pessoa que está presente agora.
A terceira consequência de Sua presença na Terra é o prazer de Deus nos homens, Sua afeição por eles. O fato de o Senhor Jesus ter se tornado homem prova o prazer de Deus nos homens. Ele não se preocupou com os anjos, mas com os descendentes de Abraão (Heb 2:16). Os homens são os objetos do amor e da graça infinitos de Deus. A vida revelada em Cristo é a luz dos homens e para os homens (Joã 1:4). É lindo ver esses seres santos louvando sem ciúmes o fato de que, por meio da encarnação do Verbo, outra geração foi elevada a esse lugar exaltado. O que importa é a glória de Deus, e isso é suficiente para eles.
15 - 20 Os pastores
15 E aconteceu que, ausentando-se deles os anjos para o céu, disseram os pastores uns aos outros: Vamos, pois, até Belém e vejamos isso que aconteceu e que o Senhor nos fez saber. 16 E foram apressadamente e acharam Maria, e José, e o menino deitado na manjedoura. 17 E, vendo- o, divulgaram a palavra que acerca do menino lhes fora dita. 18 E todos os que a ouviram se maravilharam do que os pastores lhes diziam. 19 Mas Maria guardava todas essas coisas, conferindo- as em seu coração. 20 E voltaram os pastores glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes havia sido dito.
Quando os anjos concluem sua tarefa, eles retornam ao céu. Em seguida, os pastores se puseram a caminho. Eles se encorajam mutuamente a ir a Belém. Eles sabem que Belém é a cidade de Davi. A fé está presente e ativa nesses simples israelitas a quem o anjo do Senhor foi enviado. O Senhor lhes anunciou as coisas e isso os colocou em movimento. Eles querem ir e ver o que lhes foi dito.
Eles reagem de forma completamente diferente dos líderes religiosos que também ouviram sobre o nascimento do Rei. Os líderes se colocam à disposição do inimigo, e o resultado é um grande banho de sangue entre os bebês de Belém. Os pastores partiram para adorar. O mais rápido que podem, vão para Belém e lá encontram Maria, José e o bebê deitado na manjedoura. Eles não veem nada de espetacular, mas a criança que veem é a salvação de Deus que veio para a humanidade, mas de uma forma que é visível apenas para a fé.
Quando eles viram “isso” – ou seja, a criança – eles voltaram. Nada é dito sobre Maria e José. Trata-se da criança. E, vendo-a, começaram a falar sobre ela. Eles agora experimentaram pessoalmente o testemunho divino por meio do anjo sobre o que viram. Agora não podem mais guardar para si o que lhes foi dito e o que também viram. Eles precisam falar sobre isso com outras pessoas. O conteúdo de sua mensagem é o Verbo “como lhes havia sido dito”.
Todos os que ouvem o que os pastores dizem ficam maravilhados. No entanto, isso não fez com que as pessoas também fossem até a manjedoura para ver a criança. Era muito comum, na verdade um pouco embaraçoso, que o Messias viesse até eles dessa maneira.
A fé de Maria conserva tudo o que ela experimenta (veja também verso 51). Ela pensa sobre isso em seu coração. Para ela, não são impressões passageiras. Está muito claro que Deus está agindo e que o nascimento de seu filho é extraordinário e terá consequências extraordinárias. É com isso que ela está ocupada, e é com isso que a fé está preocupada.
Os pastores ficam impressionados com o que viram. Quando retornam ao rebanho, não fazem nada além de glorificar a Deus e louvá-Lo. Eles ouviram e viram tantas coisas bonitas. Tudo estava de acordo com o que o anjo havia lhes dito. Esse é um belo efeito da fé na Palavra, no que lhes foi dito. Eles não dão a ela um significado próprio, mas a aceitam como foi dita. Essa é a causa de sua glorificação e louvor a Deus. O mesmo acontecerá conosco se aceitarmos com fé o que lemos na Palavra de Deus. Então, não poderemos deixar de louvá-Lo pelo que Ele nos mostrou em Sua Palavra.
21 A circuncisão do Senhor Jesus
21 E, quando os oito dias foram cumpridos para circuncidar o menino, foi-lhe dado o nome de Jesus, que pelo anjo lhe fora posto antes de ser concebido.
O Senhor Jesus é um homem de Israel, um judeu. Portanto, as leis também se aplicam a Ele. Ele nasceu de uma mulher e está sob a lei (Gál 4:4). Ele se submete às leis que Ele mesmo criou. Portanto, Ele também é circuncidado (Luc 1:59; Gên 17:12; Lev 12:3).
Como circuncidado, Ele é obrigado a guardar toda a lei (Gál 5:3). Ele fez isso. Em Sua circuncisão, Ele também recebeu o nome “Jesus”, que significa: “O Senhor é salvação”. Foi isso que o anjo disse, e é isso que acontece.
Sua circuncisão não apenas mostra Sua submissão à lei, mas significa muito mais. Ela também tem um significado espiritual. É uma indicação do que aconteceria com Ele na cruz do Calvário e o que de fato aconteceu. A circuncisão na cruz faz referência à morte sob o julgamento de Deus (Col 2:11), por meio da qual Ele realmente trouxe a salvação. Por meio disso, pode haver um novo começo para cada pessoa que aceita com fé que Cristo também suportou o juízo de Deus por ela sobre seus pecados.
O oitavo dia fala desse novo começo. É uma figura da nova criação de todos aqueles que participam da circuncisão de Cristo. Sua circuncisão é a base para que haja mais pessoas do bom prazer do que apenas Ele. Deus quer filhos de Sua boa vontade.
22 - 24 A consagração do Senhor Jesus
22 E, cumprindo-se os dias da purificação, segundo a lei de Moisés, o levaram a Jerusalém, para o apresentarem ao Senhor 23 (segundo o que está escrito na lei do Senhor: Todo macho primogênito será consagrado ao Senhor) 24 e para darem a oferta segundo o disposto na lei do Senhor: um par de rolas ou dois pombinhos.
Após a circuncisão, ocorrem os dias de purificação. Depois que José e Maria se submeteram ao ritual de purificação (Lev 12:1-6), eles o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor no templo. Lucas é o evangelista que menciona repetidamente o templo. Ele começa seu Evangelho com uma cena no templo e termina com isso.
O Senhor Jesus é o Filho primogênito de Maria. Portanto, Ele também deve ser tratado de acordo com a prescrição de Êxodo 13 (Êxo 13:2,12-13). Mas Ele não é apenas literalmente o Filho primogênito de Maria, Ele também é, no sentido pleno da palavra, o primogênito de todos os homens e de toda a criação (Col 1:15; Heb 1:6), porque Ele é o mais importante. Como resultado de Sua circuncisão na cruz, Ele também é o primogênito dentre os mortos (Col 1:18) e, portanto, também o primogênito entre muitos irmãos (Rom 8:29).
Deve ter sido uma grande alegria para Deus quando Maria apresentou seu Filho a Ele. Deus já via tudo isso nEle. Deus viu que Seu Filho levaria muitos filhos à glória (Heb 2:10). O Evangelho de Lucas é o Evangelho da filiação, dos filhos aceitos.
Na santificação, um sacrifício deve ser oferecido para isso. José e Maria fazem o mesmo. A partir do sacrifício que eles oferecem, fica claro em que circunstâncias miseráveis o Senhor nasceu (Lev 12:8). Seus pais trazem o sacrifício dos pobres. Ao mesmo tempo, esses sacrifícios abrem caminho para o verdadeiro sacrifício que seria o Senhor Jesus. Seu sacrifício é a base sobre a qual a adoração pode ser realizada. Estamos no templo, o local de adoração. A adoração só pode ocorrer com base no sacrifício de Cristo e só pode ocorrer por meio daqueles que, como filhos agraciados de Deus, estão unidos ao Filho do seu amor.
25 - 28 Simeão toma o menino em seus braços
25 Havia em Jerusalém um homem cujo nome era Simeão; e este homem era justo e temente a Deus, esperando a consolação de Israel; e o Espírito Santo estava sobre ele. 26 E fora-lhe revelado pelo Espírito Santo que ele não morreria antes de ter visto o Cristo do Senhor. 27 E, pelo Espírito, foi ao templo e, quando os pais trouxeram o menino Jesus, para com ele procederem segundo o uso da lei, 28 ele, então, o tomou em seus braços, e louvou a Deus, e disse:
Depois que foi realizado de acordo com a lei, o que deveria ser feito ao Senhor, nosso olhar é direcionado com um “Havia” para um homem em Jerusalém. Ele é um dos muitos homens em Jerusalém, mas esse homem tem características especiais. Seu nome é “Simeão”, que significa “ouvinte”. Ele aprendeu a ouvir a voz do Senhor. Você pode ver isso em sua vida. Ele é “justo” perante os outros homens e teme a Deus. Ele vive para a glória de Deus. Assim, ele também tem amor pelo povo de Deus que está na miséria. Ele também é um homem com expectativas para o futuro. Ele espera pela “consolação de Israel”, que ele sabe que virá. Ele sabe disso pelas escrituras. O Espírito Santo gosta de se conectar com alguém assim.
Em Simeão, vemos o remanescente temente a Deus que, de acordo com o que o Espírito opera nele, reconhece o Senhor como o Vindouro. O remanescente inclui aqueles que estão cientes da miséria e da decadência de Israel, mas que, ao mesmo tempo, esperam no Deus de Israel e confiam que Ele confortará Seu povo em Sua fidelidade imutável. Eles sempre clamam: “Até quando?” (Slm 6:3; 13:2; 79:5; 89:46; 90:13; 94:3).
Mas vemos mais em Simeão. Vemos nele o espírito de adoção. Aquele que possui o Espírito de adoção e é guiado por Ele é alguém com quem Deus pode ter comunhão e com quem pode compartilhar Seus pensamentos. Deus pode tornar Seus pensamentos claros para Simeão. Simeão espera pela consolação de Israel, e o primeiro a ser consolado é ele mesmo. Ele acredita em todas as promessas de Deus com relação ao consolo de Israel. Ele também acredita na promessa de Deus com relação a ele pessoalmente. Deve ter sido um grande incentivo para ele ouvir que veria o Cristo do Senhor com seus próprios olhos.
Simeão chega ao templo, não por uma estrela, um sonho ou um anjo, mas pelo Espírito Santo que está sobre ele. Ele é guiado pelo “Espírito de adoção” (Rom 8:14-15). Um homem como Simeão, que se deixa guiar pelo Espírito, chega ao templo no momento certo. Ele entra no templo e lá também vão José e Maria com o menino Jesus.
Ele não precisa perguntar se a criança que esse casal tem com eles é o Cristo do Senhor. O Espírito deixa isso claro. Os pastores viram os anjos e admiraram a criança, os sábios viram a estrela e se prostraram diante do menino, mas Simeão o tomou em seus braços. Ele o abraça e o aperta em seu coração. Em seus braços está a salvação do mundo e a paz para a Terra. Assim, aquele que aperta a criança em seu coração já tem a salvação e a paz em seu coração, enquanto na Terra ainda não há paz. Quando você abraça Cristo dessa maneira, não pode deixar de louvar a Deus.
29 - 32 O cântico de louvor de Simeão
29 Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra, 30 pois já os meus olhos viram a tua salvação, 31 a qual tu preparaste perante a face de todos os povos, 32 luz para alumiar as nações e para glória de teu povo Israel.
Quando Simeão tem a criança em seus braços, ele louva o Senhor, seu Mestre, de quem é servo. O Senhor fez com que sua palavra se cumprisse nele. Agora ele pode partir em paz. A Lei de Moisés jamais permitiria que um homem pecador partisse em paz. Simeão, por outro lado, pode partir em paz por causa do que seu Senhor disse. Isso não é imaginação, mas fé sóbria. É “segundo a tua palavra”, não apenas um forte desejo ou uma esperança otimista, mas uma certeza completa. Nada é tão certo quanto os testemunhos de Deus e Sua Palavra. Agora ele viu com seus próprios olhos o cumprimento das promessas de Deus. Pois Simeão havia recebido uma indicação de Deus de que não veria a morte até que tivesse visto o Cristo do Senhor. Isso lhe foi prometido, e agora ele O vê!
Mas a paz com a qual ele pode partir, de acordo com a palavra do Senhor, não é só para ele. É também para outros que não verão a criança, mas que acreditam no Senhor Jesus, pois Paulo escreve: “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens” (Tit 2:11). Em nenhum cântico de louvor anterior ouvimos falar de nossa salvação, que é para todas as nações e não apenas para Israel. Por isso, Simeão vai mais longe do que os outros.
Ele fala sobre como as nações viviam em trevas durante o período em que Deus reconheceu Israel como seu povo. Para as nações, esses eram “os tempos da ignorância” (Atos 17:30). Naqueles tempos, Deus foi tolerante com os atos delas. Mas agora, diz o apóstolo, Deus ordena a “todos os homens, em todo lugar” que se arrependam (Atos 17:30). Desculpar-se por ignorância não é mais válido. A luz brilha, a verdadeira luz. Cristo é essa luz, e Ele é uma luz para a revelação às nações. Agora é o tempo de cegueira para Israel, mas para as nações que permaneceram nas trevas por tanto tempo, a luz está sendo revelada. Elas estão saindo de sua posição humilhada.
Além disso, quando Deus tiver concluído sua obra entre as nações, ela se tornará realidade: “... para a glória do teu povo Israel”. Portanto, o importante verso 32 nos mostra qual será a consequência se Israel rejeitar o Messias e o que acontecerá no futuro antes que eles cheguem à posição que Deus planejou para eles. Essa não é a ordem que encontramos nos profetas, onde o Senhor é visto como a glória de Israel, como aquele que também abençoa as nações, mas onde as nações estão subordinadas ao povo escolhido. Nesse verso 32, a ordem é invertida e muito significativa: “Uma luz para a revelação das nações e para a glória do teu povo Israel”.
Lucas está falando sobre a dispensação atual. O estado de coisas predito pelos profetas segue esse tempo extraordinário (que é o tempo em que estamos vivendo) quando a luz será revelada às nações. Então, Ele elevará Israel à mais alta glória terrena, acima de todas as outras nações. Deus, em Sua sabedoria, garantiu que Sua bondade será sempre para os povos, mas, ao mesmo tempo, cumprirá Suas promessas antigas e especiais a Israel. Durante a atual dispensação, é preciso necessariamente distinguir essas duas coisas.
33 - 35 A espada na alma de Maria
33 José e Maria se maravilharam das coisas que dele se diziam. 34 E Simeão os abençoou e disse à Maria, sua mãe: Eis que este é posto para queda e elevação de muitos em Israel e para sinal que é contraditado 35 (e uma espada traspassará também a tua própria alma), para que se manifestem os pensamentos de muitos corações.
José e Maria são chamados de “seu pai e sua mãe”. Ele foi confiado a eles como Seus pais. Para eles, Ele é um bebê especial com uma tarefa especial. Eles não conseguem entender o quão extraordinário Ele é e o que Sua tarefa implica. Eles ouvem com espanto o que Simeão diz sobre Ele sob a orientação do Espírito de Deus.
Em seguida, lemos que Simeão abençoa “eles”, ou seja, José e Maria, não a criança. Ele então diz uma palavra especialmente para Maria. Seu filho se tornaria a grande referência para todos em Israel (Isa 8:14-15). Muitos cairiam por causa dele, mas também haveria muitos que se levantariam após a queda. Isso acontecerá com um remanescente no futuro (Rom 11:11-15).
Nos versos 31 e 32, ouvimos a explicação de que os conselhos de Deus um dia certamente seriam cumpridos no Messias. Ouvimos a alegria do coração de Deus. Os versos 34 e 35 descrevem o efeito de Jesus ser apresentado a Israel na Terra como o Messias. Deus está provando o coração do homem. Ele será um sinal que será contestado. Encontramos três vezes que o Senhor Jesus é um sinal, cada vez em um contexto diferente, mas cada vez em conexão com um evento de significado extraordinário. O primeiro sinal está relacionado à sua vinda em humildade, o sinal de uma criança em uma manjedoura verso 12. O segundo sinal está associado à sua rejeição, morte e ressurreição aqui em (Luc 11:29-30). O terceiro sinal está relacionado à sua aparição em majestade (Mat 24:30).
Em relação ao segundo sinal, que será contestado, uma espada transpassará a alma de Maria. Quando ela vir seu filho ser rejeitado e os laços naturais do Messias com Seu povo serem rompidos e negados, isso causará grande dor em sua alma. Ele será rejeitado e morto porque revelará os pensamentos de muitos corações, pois Ele é luz. Então ficará claro que os homens odeiam a luz e que amam mais as trevas do que a luz. Nele serão revelados os conselhos de Deus e o coração do homem.
36 - 38 A profetisa Ana
36 E estava ali a profetisa Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Esta era já avançada em idade, e tinha vivido com o marido sete anos, desde a sua virgindade, 37 e era viúva, de quase oitenta e quatro anos, e não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia. 38 E, sobrevindo na mesma hora, ela dava graças a Deus e falava dele a todos os que esperavam a redenção em Jerusalém.
Depois de Simeão, um homem especial, Lucas apresenta uma mulher especial. Ela também merece atenção especial em relação ao nascimento do Salvador. Ela é “uma profetisa”, ou seja, uma pessoa que entende os pensamentos de Deus e sabe como aplicá-los ao seu coração e à sua consciência. Ela possui o espírito de profecia, que é Cristo (Apo 19:10). Sua vida girava e gira em torno de Cristo. Todos os nomes mencionados têm belos significados. Seu próprio nome é “Ana”, que significa “graça”. Ela é filha de “Fanuel”, que significa “a face de Deus”, e vem da tribo de “Aser”, que significa “feliz”. O fato de ela vir de Aser significa que ela não pertence às duas tribos de Judá e Benjamim que retornaram à terra após o cativeiro babilônico, mas que ela pertence às dez tribos que ainda estão na dispersão. Isso deixa clara a graça de Deus, que é dirigida a todo o povo, a todas as doze tribos.
Ela foi casada por apenas sete anos, depois ficou viúva e sempre permaneceu assim. Lucas tem uma preferência por viúvas. Ele escreve sobre cinco viúvas em seu Evangelho (Luc 2:37; 4:26; 7:12; 18:3; 21:2). Nesse meio tempo, ela envelheceu, mas sua força espiritual permaneceu. Por sentir profundamente a miséria de Israel, ela clama com o coração de uma viúva “noite e dia” ao trono de Deus por um povo para o qual Deus não é mais o esposo. Assim como ela, o povo é, na realidade, uma viúva, só que o povo não entende isso e não quer entender. Ela acha que pode reivindicar Deus para si (cf. Apo 18:7).
Ana se volta para Deus com todo o seu ser em favor do povo. Por isso, ela jejua e ora constantemente a Deus. Assim como Simeão está no templo no momento certo, Ana também chega lá no momento certo. Ela também não precisa ser informada sobre a criança que Simeão tem em seus braços. Por meio do Espírito de Deus, ela entende que está vendo Cristo.
Aqui os que temem o Senhor se reúnem e conversam entre si (Mal 3:16). Os que pertencem ao remanescente conhecem uns aos outros. Ana fala com eles. Ela proclama que o Senhor visitou seu templo. Todos eles estavam esperando em Jerusalém pela redenção. Agora o Salvador está aqui, desconhecido para o povo, mas que motivo de alegria para o pobre remanescente. Que resposta à sua fé!
39 - 40 De volta a Nazaré
39 E, quando acabaram de cumprir tudo segundo a lei do Senhor, voltaram à Galiléia, para a sua cidade de Nazaré. 40 E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele.
Depois que o Senhor Jesus foi apresentado ao SENHOR de maneira tão especial, José e Maria voltaram com a criança para a desprezada Nazaré, no norte sombrio de Israel. Lá Ele cresce. Foi desse lugar, que tem um tom de desprezo, que Ele se autodenominou quando estava na glória e impediu Saulo de se enfurecer contra Ele (Atos 22:8). Ele não poderia ter sido nosso Salvador se tivesse recebido glória em Jerusalém. Seu lugar é no meio dos pobres do rebanho em todo o Israel.
O nascimento de uma criança, muda profundamente a vida de uma família. Com uma criança assim na família, esse certamente terá sido o caso. No entanto, a vida segue seu curso normal para José e Maria durante a infância e o crescimento do Senhor Jesus. José trabalha como carpinteiro. Eles têm mais filhos (Mar 3:31).
Como um resumo dos primeiros doze anos da vida do Senhor como homem, somos informados de que Ele passa pelo desenvolvimento normal próprio do homem. Ele é verdadeiramente humano e está crescendo em espírito, alma e corpo. Toda a Sua vida é um testemunho da graça de Deus que está sobre Ele. A graça de Deus apareceu Nele e chegou tão perto dos homens que eles O experimentam diariamente sem que Ele seja particularmente notado como um homem. Ele certamente se destacou por Sua perfeição em todas as coisas.
41 - 45 O menino em Jerusalém
41 Ora, todos os anos, iam seus pais a Jerusalém, à Festa da Páscoa. 42 E, tendo ele já doze anos, subiram a Jerusalém, segundo o costume do dia da festa. 43 E, regressando eles, terminados aqueles dias, ficou o menino Jesus em Jerusalém, e não o souberam seus pais. 44 Pensando, porém, eles que viria de companhia pelo caminho, andaram caminho de um dia e procuravam-no entre os parentes e conhecidos. 45 E, como o não encontrassem, voltaram a Jerusalém em busca dele.
Na Lei, é ordenado que os israelitas – isto é, os homens – subam a Jerusalém por ocasião das festas anuais. Uma dessas festas é a Páscoa (Êxo 12:24-27; Deu 16:1-8). Os pais do Senhor Jesus são israelitas devotos e, por isso, também sobem todos os anos para a festa. Como o filho deles completou doze anos, Ele também vai à festa com Seus pais.
Seus pais estão acostumados a ir à festa. Os hábitos não são errados. Provavelmente será errado se algo for feito apenas por hábito. Precisamos saber por que fazemos algo por hábito, caso contrário, isso se torna uma forma vazia e não percebemos mais que o Senhor se afastou de nós. Se formos às reuniões por obrigação e ocuparmos nosso lugar habitualmente, talvez o façamos com o coração vazio. Então, deixamos de perceber que o Senhor não está mais lá, assim como não estava mais em Laodicéia.
Quando os dias da festa terminam, o Senhor Jesus fica em Jerusalém sem que Seus pais saibam. Para Ele, ir a Jerusalém não se trata apenas de cumprir o que a Lei determina. Para Ele, isso tem um significado mais profundo. Jerusalém e o Templo são lugares muito queridos para Ele. São lugares que Ele mesmo escolheu, onde fez habitar o Seu nome. É lá que Ele quer ficar. Seus pais não sabem o que realmente lhe move o coração. O que seria desobediência para qualquer outra criança é perfeição para Ele.
Seus pais supõem que Ele esteja em algum lugar entre o grupo de viajantes, que deve ter sido bastante numeroso. Depois de procurá-Lo por um dia, eles não O encontraram. Eles apenas procuraram nos lugares errados. Também pode acontecer conosco de procurarmos o Senhor Jesus nos lugares errados. Isso acontece quando pensamos que Ele está conosco porque temos uma família temente a Deus ou que Ele está com aqueles que têm muito conhecimento da Bíblia. No entanto, a questão é se O conhecemos pessoalmente e sabemos que Ele faz tudo para a glória de Deus.
Quando não conseguem encontrá-Lo, retornam a Jerusalém. Eles perderam o Filho, sentem Sua falta e O querem de volta. Esse é um belo desejo.
46 - 50 Os negócios de seu Pai
46 E aconteceu que, passados três dias, o acharam no templo, assentado no meio dos doutores, ouvindo-os e interrogando-os. 47 E todos os que o ouviam admiravam a sua inteligência e respostas. 48 E, quando o viram, maravilharam-se, e disse-lhe sua mãe: Filho, por que fizeste assim para conosco? Eis que teu pai e eu, ansiosos, te procurávamos. 49 E ele lhes disse: Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos negócios de meu Pai? 50 E eles não compreenderam as palavras que lhes dizia.
Passaram-se três dias até que José e Maria O encontrassem. Parece que eles também não pensaram primariamente em Jerusalém e no Templo como os lugares onde Ele poderia estar. Eles não são como Simeão e Ana, que foram levados até lá pelo Espírito. O Senhor Jesus permanece onde Deus está presente e onde a Palavra de Deus está sendo examinada, onde as pessoas se dedicam dia e noite a estudar os pensamentos de Deus.
Eles ainda sabem tão pouco sobre o que realmente O move que provavelmente só vão ao templo como a última chance de encontrá-Lo. O espanto ao vê-Lo sentado ali, no meio dos mestres de Israel, deve ter sido visível neles. Mas observe Sua atitude para com os mestres. Como é apropriado para um menino de doze anos, que, afinal, é o Deus eterno! Ele os ouve e lhes faz perguntas. Muitos anos mais tarde, eles Lhe farão perguntas, mas então para testá-Lo e encontrar uma ocasião para condená-Lo.
Por meio desse menino simples, é revelado a todos os que O ouvem algo que eles não conseguem explicar, mas que os surpreende muito. Eles veem um menino completamente normal que, ao mesmo tempo, revela características sobrenaturais. Ele é o mesmo que dá a Estêvão sabedoria e o Espírito, de modo que Ele fala de uma forma que Seus adversários não conseguem resistir (Atos 6:10). Pouco tempo depois, os adversários veem o rosto de Estêvão como o rosto de um anjo (Atos 6:15). Esse não é o caso do Senhor Jesus. Não há nada de especial Nele, Ele “não tinha parecer nem formosura” (Isa 53:2), mas o que Ele diz é muito impressionante.
Seus pais ficam surpresos ao encontrá-Lo ali. Maria dá um suspiro de alívio por finalmente tê-Lo encontrado e O repreende por deixá-los procurar daquela maneira. Ela fala de José como “seu pai”, mostrando que se esqueceu de quem é o pai Dele. Essa também é a razão pela qual eles não conseguiram encontrá-Lo no início.
A resposta que Ele dá são as primeiras palavras que ouvimos de Sua boca no Novo Testamento. São palavras que deixam claro o significado de Sua vida. Suas primeiras palavras expressam que Ele é facilmente encontrado por aqueles que O conhecem. Aqueles que sabem do que Ele está tratando não precisam procurar muito. O problema de Maria e José é que eles têm suas próprias ideias sobre quem é seu filho. Eles não consideram que Ele veio à Terra com uma missão e que, para cumprir essa missão, Ele tem contato constante com Seu Pai.
O Senhor Jesus tem plena consciência de que Sua maneira de agir é correta. Ele não admoesta Sua mãe diretamente, mas, com mansidão e humildade, repreende Sua mãe com perguntas que indicam a ela por que Ele está na Terra. Se isso tivesse ficado claro para ela, ela saberia que Ele está no Templo. Afinal de contas, ela mesma foi a Jerusalém porque sabia que Deus exigia isso. Ela também partiu novamente porque as exigências foram cumpridas. Ele está sempre no que é de Seu Pai, e é por isso que ficou lá.
O que Ele diz – as perguntas que Ele faz – não é compreendido por eles, e isso porque eles não perceberam o suficiente o que O ocupa.
As perguntas que o Senhor faz a Seus pais são perguntas que os filhos sempre podem fazer a seus pais. São perguntas sobre o porquê das coisas que os pais fazem (cf. Êxo 12:26; Jos 4:6,21). O que respondemos quando nossos filhos perguntam por que vamos à igreja ou por que não vamos? O que respondemos quando eles nos perguntam por que lemos – ou não lemos – a Bíblia? Todas as perguntas que às vezes nos fazem parar como pais, para pensar, como está nossa vida com o Senhor.
51 - 52 O Senhor Jesus cresce
51 E desceu com eles, e foi para Nazaré, e era-lhes sujeito. E sua mãe guardava no coração todas essas coisas. 52 E crescia Jesus em sabedoria, e em estatura, e em graça para com Deus e os homens.
Quando a tarefa do Senhor em Jerusalém terminou, Ele volta para casa com Seus pais. Ele desce com eles para Nazaré. Isso é mais do que apenas uma descrição de que Nazaré é mais baixa do que Jerusalém. Ela descreve a maneira como o Senhor caminhou em humilhação.
Diante de José e Maria, Ele assume Seu devido lugar. Ele obedece às ordens que recebe de Seu Pai e as executa direta e perfeitamente, sem discussão. Eles devem ter se perguntado várias vezes sobre seu Filho mais velho, porque Ele faz tudo o que Lhe é pedido imediatamente e sem resmungar. Eles também viram Seu desenvolvimento. Ele é tão verdadeiramente humano que passa pelo mesmo crescimento físico e espiritual que qualquer outro ser humano.
Deus O vê com agrado. Ele está se desenvolvendo em completa harmonia com Deus e está em conformidade com tudo o que Deus disse que um ser humano deve ser. Em tudo, ele está orientado para Deus. A lei de Deus está em Seu ser mais íntimo, é Seu desejo fazer a vontade de Deus (Slm 40:9). Portanto, Ele cresce perfeito em tudo como o puro fruto da Lei. Isso continua por dezoito anos.
Ele também é um convidado bem-vindo entre as pessoas. Sua presença é uma bênção para todas as pessoas. Elas sentem Sua presença como uma bênção. Ele sempre tem tempo para elas, dá atenção a elas e está sempre pronto a ajudar.