1 - 4 Através de Samaria até a Galiléia
1 E, quando o Senhor veio a saber que os fariseus tinham ouvido que Jesus fazia e batizava mais discípulos do que João 2 (ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos), 3 deixou a Judéia e foi outra vez para a Galiléia. 4 E era-lhe necessário passar por Samaria.
É dito aqui, de forma tão humana, que o Senhor, que é o Onisciente, “veio a saber” algo. É como se algo tivesse sido dado a Ele para que entendesse ou como se Ele tivesse testemunhado o fato. Aqui vemos como Sua verdadeira humanidade vem à tona, embora Ele seja o Deus eterno que sabe tudo. Essa é a maravilha de Sua pessoa que não podemos compreender. O Senhor reconhece que os fariseus ouviram dizer que Ele faz e batiza mais discípulos do que João. “Fazer discípulos” é feito por meio do batismo (Mat 28:19). Os fariseus também foram ao batismo de João. No entanto, ele não os batiza, mas os expõem (Mat 3:7).
João já era uma ameaça à posição deles, mas agora eles ouvem que o Senhor está atraindo ainda mais pessoas. Como resultado, eles se veem ainda mais ameaçados. Seu ódio contra Ele é revelado porque eles fazem o mal e Ele o traz à luz. Mas eles não querem ser expostos por Ele (Joã 3:20). Para escapar do ódio deles nesse momento, o Senhor deixa a Judéia, onde os fariseus estão fortemente representados.
João, o evangelista, menciona em um aparte que o próprio Senhor não batiza, mas que seus discípulos o fazem. Seus discípulos só podem batizar para um Messias vivo. Ele mesmo sabe que, como Filho do Homem, precisa sofrer e morrer primeiro, por isso não batiza.
Ele deixa a Judéia e volta para a Galiléia. Sua chegada à Galiléia é o momento em que, no relato dos outros Evangelhos, Seu ministério público começa e a Galiléia vê uma grande luz (Mat 4:12-17). Seu caminho para a Galiléia passa por Samaria. Ele teve de passar por Samaria. É uma “obrigação” divina, porque Seu Pai assim ordenou Seu caminho. Como um verdadeiro homem, Ele abriu os ouvidos para o Pai pela manhã (Isa 50:4). Portanto, Ele sabe que encontrará uma mulher exausta em Samaria. Deus quer usar esse encontro para dar um testemunho entre as nações de que Seu Filho é o Salvador do mundo (verso 42).
5 - 6 Na fonte de Jacó
5 Foi, pois, a uma cidade de Samaria, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó tinha dado a seu filho José. 6 E estava ali a fonte de Jacó. Jesus, pois, cansado do caminho, assentou-se assim junto da fonte. Era isso quase à hora sexta.
O Senhor chega a Sicar. João nos lembra que essa cidade fica perto do campo que Jacó deu a seu filho José. Isso nos faz lembrar do relacionamento entre Jacó e seu filho José. Sabemos que José era o filho do amor de seu pai Jacó. Jacó já havia dado a José uma roupa colorida como expressão de seu amor por ele (Gên 37:3). Mas ele também deu a José um campo que havia comprado dos filhos de Hamor (Gên 33:19; Gên 48:22; Jos 24:32). No relacionamento de amor entre Jacó e José, e na forma como esse amor é expresso, encontramos uma imagem maravilhosa do amor do Pai pelo Filho. O Pai ama o Filho e entregou todas as coisas em suas mãos (Joã 3:35).
Em Sicar está a fonte de Jacó. É a fonte para o viajante cansado e sedento. O Senhor Jesus está cansado da jornada e se senta nessa fonte. João novamente observa um detalhe e relata que era por volta da hora sexta, ou seja, a hora mais quente do dia.
Vemos o Filho de Deus compartilhando do sofrimento geral da humanidade quando Ele, cansado da jornada, senta-se na fonte para descansar. Ele está satisfeito com isso. Ele não quer nada além de fazer a vontade do Pai. O Pai O direcionou para lá. No que se segue, encontramos uma bela enumeração das características ou atributos do Salvador, todos exibidos em toda a sua glória e esplendor. Em tudo o que Ele diz, Sua perfeita divindade é revelada. Vemos Nele que Deus é luz e que Deus é amor. Sua completa humanidade é mostrada naquilo que Ele precisa.
7 - 9 Um encontro na fonte
7 Veio uma mulher de Samaria tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber. 8 Porque os seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida. 9 Disse-lhe, pois, a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos)?
Enquanto o Senhor está sentado ali descansando, uma mulher de Samaria vai até a fonte para tirar água. Esse é o início de um encontro extraordinariamente notável entre uma mulher solitária, pobre e pecadora e o Juiz dos vivos e dos mortos.
Ele inicia a conversa pedindo para que ela dê de beber a Ele, o Deus eterno, o Criador do céu e da terra. Como ser humano, Ele depende dessa mulher para beber água. No entanto, Ele é Aquele que forneceu comida e bebida para uma nação inteira durante quarenta anos, que transformou água em vinho e alimentou uma multidão faminta. Ele pede a outra pessoa que Lhe dê de beber. Ele não ordena, mas toma o lugar de uma pessoa humilde que pede algo, e isso a uma mulher grande pecadora. É assim que o Senhor inicia a conversa com essa mulher que Ele conhece completamente. Ele sabe como encontrá-la para finalmente lhe dar toda a bênção que tem para ela.
Esse encontro foi precisamente preparado por Deus. Quando o Filho de Deus e a mulher se encontram, não há ninguém presente. Os discípulos tiveram que se afastar para dar lugar a ela. Eles não sabem nada sobre essa graça. A mulher também chega à fonte sozinha. Ela não está com as outras mulheres. E em sua solidão, ela encontra o Salvador do mundo. Foi uma maravilhosa condução de Deus que a levou até lá. Que encontro! Duas pessoas solitárias se encontram. Mas quem estava mais solitário do que Ele? A conversa é entre Ele e ela pessoalmente, sem a possibilidade de interferência ou distração de outras pessoas.
A mulher samaritana se surpreende com o pedido do Senhor. Ela vê que Ele é judeu. Ela sabe que, aos olhos dos judeus, ela é “apenas” uma mulher samaritana, que, portanto, não conta nada. O desprezo dos judeus pelos samaritanos era grande, tão grande que os judeus ignoravam completamente os samaritanos. Os judeus agiam como se eles não existissem. Não havia interação alguma com eles. Daí a pergunta espantada dela sobre como era possível que Ele, que naquele momento ainda não era nada mais para ela do que “um judeu”, lhe pedisse algo para beber.
10 - 15 O dom de Deus
10 Jesus respondeu e disse-lhe: Se tu conheceras o dom de Deus e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva. 11 Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? 12 És tu maior do que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, bebendo ele próprio dele, e os seus filhos, e o seu gado? 13 Jesus respondeu e disse-lhe: Qualquer que beber desta água tornará a ter sede, 14 mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água a jorrar para a vida eterna. 15 Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede e não venha aqui tirá-la.
Em sua resposta, o Senhor fala à mulher sobre o fato de Deus ter um dom. Ele diz isso de uma forma que desperta nela o desejo por esse dom. O Filho não apresenta Deus como alguém que exige, mas como alguém que dá. Se ela conhecesse o dom de Deus, ou seja, a água viva, ela inverteria os papéis. Ela teria pedido a Ele que lhe desse de beber e Ele lhe daria água viva. Deus é a fonte de água viva (Jer 2:13; também Zac 14:8) e, como Deus, o Filho, Ele agora oferece água viva às pessoas.
Com essa oferta, Ele quer atender às necessidades espirituais, à sede espiritual das pessoas. Ele é capaz de saciar essa sede. É por isso que Ele aponta para Si mesmo como o humilhado, que é ao mesmo tempo o Filho do Pai, mas que se humilhou tão profundamente que pode pedir água a uma mulher pecadora. Foi assim que Deus se aproximou do homem em Seu Filho, nEle que é o verdadeiro Deus e a vida eterna. Quando Ele diz: “Se tu conheceras ... quem é o que te diz”, Ele está apontando para Si mesmo como a pessoa cansada e sedenta que pede um gole de água e que, ao mesmo tempo, é o eterno Filho de Deus. Ele é verdadeiramente o dom de Deus para os homens.
Deus poderia mostrar mais claramente que Ele é um doador? O fato de ela não ter ideia disso naquele momento não muda o fato de que Ele é o poderoso dom de Deus. Se ela tivesse tido a menor noção disso, teria pedido a Ele água viva. Esse é o pedido do vivificante Verbo de Deus que Deus apresenta ao coração daqueles que desejam essa água viva. Quando temos esse desejo, ele se torna efetivo em nosso coração e nos coloca em conexão com o Senhor Jesus e com tudo o que se encontra Nele.
Mas, assim como Nicodemos no capítulo anterior, a mulher só consegue pensar nesse nível natural. Ao fazer isso, ela limita as palavras do Senhor, como se precisasse de ajuda humana para obter essa água viva. Ela pergunta para Ele de onde Ele tira a água viva. E Ele deveria ser maior do que o anterior, que sempre foi suficiente para todas as necessidades, mesmo antes para Jacó, sua família e seus bens, e agora também para as necessidades deles?
Para aqueles que não têm olhos para a glória de Cristo, a tradição é sempre um obstáculo para aceitar o que vem de Deus. Um grande nome, grandes dons e uma longa tradição cegam a pessoa para a obra de Deus em Cristo. Assim, o verdadeiro Grande não é reconhecido em sua grandeza.
Mas o Senhor procura quebrar as tradições deles. Primeiro, Ele aponta para a água do poço. A água refresca por um tempo, mas depois a pessoa fica com sede novamente e precisa beber de novo. A água de um poço natural sacia a sede por um momento, mas não para sempre. Isso é o que Deus determinou para a criatura. Mas para aquele que pode beber do Espírito Santo, as coisas são diferentes. Cristo fala sobre isso mais tarde e se refere à água que Ele oferece. A água que Ele dá não apenas liberta da busca incansável pela paz, mas dá muito mais. A água é uma fonte de alegria que alguém recebe interiormente e nunca mais perde.
Há mais coisas relacionadas a ela. A fonte interior está ligada à vida eterna. Aqui o Senhor está pensando no dom do Espírito Santo, que Ele dá ao crente para que se torne nele uma fonte de alegria divina (Joã 7:39). No capítulo 3, o dom é o Filho unigênito, que Deus deu ao mundo (Joã 3:16). Aqui, a dádiva é o Espírito Santo, que Deus nos dá por meio de Seu Filho e que nos capacita a desfrutar tudo o que nos foi dado no Filho.
Tudo o que Deus nos deu pode ser resumido no termo “vida eterna”. A vida eterna tem dois aspectos. Ela é o próprio Senhor Jesus (1Joã 5:20) e o conhecimento do Pai e do Filho. Isso também é chamado de vida eterna (Joã 17:3). Possuir essa fonte que nos permite desfrutar da vida eterna nos leva a uma satisfação duradoura. Quando essa fonte está presente, não há mais necessidade de qualquer outra coisa por toda a eternidade. Essas são as coisas gloriosas associadas ao dom de Deus.
A mulher já entendeu tanto das palavras do Senhor que deseja possuir o que Ele fala. No entanto, ela ainda associa isso à fonte natural, como se não precisasse mais buscá-la para saciar sua sede natural.
16 - 19 A consciência na luz
16 Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido e vem cá. 17 A mulher respondeu e disse: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido, 18 porque tiveste cinco maridos e o que agora tens não é teu marido; isso disseste com verdade. 19 Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.
No entanto, antes que o Senhor possa lhe dar a água que se tornará uma fonte de água dentro dela, sua consciência deve primeiro vir à luz de Deus. Ela precisa primeiro ser convencida de seus pecados. Em vista disso, Ele lhe diz para ir e chamar o marido. No entanto, Ele não apenas diz: “Vai”, mas também: “...e vem cá”. Sua bondade não é limitada pela vida pecaminosa dela. Sua bondade se prova precisamente por meio disso.
Por meio da pergunta dele, a mulher se reconhece. Quando ela diz: “Não tenho marido”, isso não é uma desculpa, mas ao dizer isso, ela reconhece que está vivendo em pecado por meio de sua coabitação solteira. O Senhor confirma que a resposta dela está correta. Em Sua resposta subsequente, Ele fala apenas algumas palavras, mas essas palavras a levam à luz de Deus. No entanto, ela não é consumida por essa luz, mas é introduzida na graça.
Ele lhe mostra que sua história é como um livro aberto para Ele. A verdade não a poupa, mas expõe seu pecado diante de Deus e de sua própria consciência. Ela reconhece isso como a luz de Deus. A mulher reconhece que as palavras do Senhor não vêm da sabedoria humana, mas do poder de Deus. É assim que um profeta fala, e é assim que Cristo fala aqui. Um profeta fala as palavras de Deus por meio das quais o ouvinte chega à presença de Deus e conhece a si mesmo (cf. 1Cor 14:24-25).
Para a mulher, o Senhor era, no início, simplesmente “um judeu” (verso 9), agora Ele já é “um profeta”, e imediatamente ela o confessará como o “Cristo” (verso 29). Assim, vemos sua fé progredindo rapidamente por meio da obra graciosa de Cristo em sua alma. É a graça que não esconde o pecado dela, mas a faz sentir que Deus sabe de todas as coisas. E, no entanto, Ele, que sabe de tudo, está lá sem incomodá-la. Seu pecado está diante da face de Deus, mas Deus não lida com ela. Que encontro maravilhoso é esse entre um coração sobrecarregado pelo pecado e Deus, um encontro que acontece por meio de Cristo. A graça gera confiança.
20 - 22 O local de adoração
20 Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar. 21 Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai. 22 Vós adorais o que não sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvação vem dos judeus.
Depois que a mulher se sente colocada na luz de Deus, ela fala sobre adoração, sobre a adoração a Deus. Um coração que está convencido de seus pecados e da graça de Deus para com os pecadores exige adorar a Deus. Aqui vemos como isso acontece com essa mulher. Ela expressa seu desejo de adorar e, ao mesmo tempo, fala de sua dificuldade em saber como e onde fazê-lo, apontando para dois lugares de adoração.
A mulher fala sobre “nossos pais” que adoravam “neste monte”. A adoração sempre esteve associada a uma longa tradição para eles até hoje. Esse também é o caso de inúmeros cristãos hoje. Eles visitam uma igreja ou um edifício porque seus pais e avós fizeram o mesmo. Eles nunca se perguntaram o que a mulher está se perguntando agora: “Qual é o verdadeiro lugar de adoração”?
A mulher também sabe que, para os judeus, Jerusalém é o local de adoração. Ela quer saber do Senhor Jesus qual dos dois lugares é o verdadeiro lugar de adoração. O Senhor responde à pergunta dela, primeiro enfatizando a fé Nele. Isso é visto no fato de que Ele começa Seu ensino sobre adoração com as palavras: “Mulher, crê em mim”. Ele deixa claro para ela que, pela fé, Jerusalém e Samaria desaparecerão completamente como locais de adoração. Agora que o Pai é revelado no Filho e por meio do Filho, a adoração não está mais ligada a um lugar específico na Terra.
Embora Jerusalém e Samaria desapareçam, não é que elas sejam locais de adoração equivalentes. A mulher e todos os samaritanos têm uma adoração que não se concentra no Deus verdadeiro. Eles não sabem o que estão adorando. Deus não se uniu a eles e não se deu a conhecer a eles como Yahweh. Sua adoração é dirigida a um Deus desconhecido, um produto de sua própria imaginação religiosa. Para os judeus (“nós”), eles sabem bem o que estão adorando. Para eles, Deus se deu a conhecer e também lhes disse onde e como Ele quer ser adorado.
Portanto, em relação à mulher samaritana, o Senhor também defende a adoração judaica. Esse ainda é o culto designado por Deus neste momento, pois deles provém a salvação que está em Cristo (Rom 9:4-5). Os samaritanos são imitadores e hostis a Deus, pois, caso contrário, teriam se submetido aos caminhos e à palavra de Deus.
O Senhor fala sobre “o que” é adorado, não sobre “quem” é adorado. Embora Deus tenha se revelado no judaísmo, essa revelação ainda é limitada. Todo o serviço é regulamentado de tal forma que até mesmo alguém que não acredita em Deus pode participar. Além disso, Deus habitava no escuro, atrás do véu, e o povo em geral não tinha permissão para se aproximar Dele. Portanto, essa adoração é um “o quê”, o cumprimento de um preceito, sem necessariamente ter um relacionamento interior com Deus. Mas quando Cristo morreu, isso mudou. Então, Deus deu um passo à frente e se revelou por meio do Espírito no Filho como Pai. Por isso os cristãos sabem “a quem” estão adorando e não apenas “o quê”.
23 - 24 O Pai procura adoradores
23 Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade, porque o Pai procura a tais que assim o adorem. 24 Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
Aqui encontramos o primeiro desdobramento da adoração cristã que Deus já deu a um ser humano. Essa adoração vai além não apenas da adoração samaritana, mas também da judaica. A adoração cristã tem a ver com a adoração ao Pai; não se trata mais de adorar Yahweh, o Deus de Israel, ou o Todo-Poderoso, como os arquipais o conheciam. Também não se trata mais de uma adoração prescrita que Deus exige (Deu 6:13). Deus tem direito à adoração de cada pessoa na Terra e sempre exigiu essa adoração do homem. Mesmo quando a igreja for levada para o céu e houver grande tribulação na Terra, a ordem ressoa: “Adorai aquele que...” (Apo 14:7).
Mas Deus não exige adoração da igreja, porque quando o Filho veio à Terra, Deus se revelou como um doador. Assim, o Filho de Deus vem aos homens pecadores, que vemos representados nessa mulher samaritana. O Senhor Jesus tornou Deus conhecido como o Filho O conhece. Ele revelou o Pai na plenitude do amor e da comunhão. O Filho também levará os Seus que estão no mundo a uma união consciente com o Pai, como filhos do Pai (Joã 20:17), porque eles nasceram de Deus (Joã 1:12-13).
Sob essa luz, tanto o Monte Gerisim quanto Jerusalém desaparecem. A adoração no Monte Gerisim não passava de um culto rebelde; a adoração em Jerusalém era apenas a prova do homem e de sua incapacidade de encontrar Deus sob a lei. A adoração cristã baseia-se na posse da vida eterna no Filho e no dom do Espírito Santo como o poder da adoração (Flp 3:3).
De agora em diante, a adoração nacional é uma aberração, é apenas uma tentativa de trazer à vida algo que desapareceu no que diz respeito ao conhecimento de Deus. De agora em diante, o Pai está procurando por pessoas que O adorem como Pai. Para isso, essas pessoas devem conhecê-Lo como Pai, e isso só é possível quando elas aceitam o Filho.
Vemos aqui o grande desejo do Pai que o Filho torna conhecido. Toda a obra do Filho é direcionada para a realização dessa adoração. Não lemos em nenhuma parte das Escrituras que o Pai busca qualquer outra coisa, embora também seja importante, por exemplo, que testemunhemos do Senhor Jesus. Devemos refletir se damos a esse desejo do Pai a mais alta prioridade em nossa vida.
O Senhor acrescenta algo mais. O Pai certamente busca adoradores, mas, ao fazê-lo, é importante saber como Ele quer ser adorado. Portanto, o Filho diz que devemos nos lembrar de que Deus é um Espírito. Ele fala sobre o “Pai” quando se trata de bênçãos e sobre “Deus” quando se trata de responsabilidades. Portanto, quando se trata da forma de adoração, trata-se de responsabilidade e, por isso, Ele fala sobre “Deus” e sobre “deve”.
A adoração ao Pai deve ser “em espírito”, ou seja, de forma espiritual, conduzida pelo Espírito Santo, e não de forma terrena e “palpável” do Antigo Testamento. A adoração da qual o Senhor Jesus fala aqui não é um assunto exterior que requer roupas especiais, espaços consagrados ou certas ações visíveis. Ela tem a ver com o coração e não com os olhos ou as mãos. Tudo o que é externo tem apenas o efeito de desviar a atenção dAquele que é apresentado à fé por meio do Espírito Santo.
Ao mesmo tempo, é importante que a adoração ao Pai seja feita em verdade, ou seja, de acordo com a verdade que o Senhor Jesus revelou sobre o Pai. A adoração cristã é centralizada no Pai e no Filho do Pai. Somente os verdadeiros crentes podem adorar em espírito e em verdade.
25 - 27 Cristo se apresenta à mulher
25 A mulher disse-lhe: Eu sei que o Messias (que se chama o Cristo) vem; quando ele vier, nos anunciará tudo. 26 Jesus disse-lhe: Eu o sou, eu que falo contigo. 27 E nisso vieram os seus discípulos e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher; todavia, nenhum lhe disse: Que perguntas? ou: Por que falas com ela?
O que o Senhor Jesus disse sobre adoração ainda vai muito além do pensamento da mulher. No entanto, ela não se afasta Dele, mas se dirige a Ele como o Messias. De qualquer forma, esse é o pensamento que surge nela por meio do que Ele disse. Ela acerta em cheio, está bem na fonte.
Quando a mulher fala de seu desejo pelo Messias, o Cristo, o Senhor pode se dar a conhecer a ela. Ele alcançou seu objetivo com ela. Uma pobre samaritana pecadora aceita o Messias de Israel que os sacerdotes e fariseus haviam rejeitado dentre o povo. Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo (ou seja, o Messias) é nascido de Deus (1Joã 5:1). É nisso que ela acredita. Seu coração é tocado e sua consciência é atingida. A graça e a verdade que vieram a ela em Jesus Cristo (Joã 1:17) agora significam tudo para ela.
No momento certo, os discípulos voltam, pois o objetivo do Senhor com essa mulher havia sido alcançado. No entanto, a mulher ainda não havia saído quando os discípulos voltaram. O Senhor quer que eles vejam com o que Ele estava ocupado durante a ausência deles. Os discípulos ficam surpresos por Ele estar falando com uma mulher. Não era comum que um homem falasse sozinho com uma mulher sozinha.
Assim como a mulher, os discípulos ainda não entendiam muito da graça e da verdade que há em Cristo, nem que Ele busca aqueles que estão abertos a elas. Se os discípulos soubessem o que a mulher estava buscando e o que Ele estava dizendo a ela, teriam se perguntado muito mais. Ele não apenas falou com ela, mas revelou-lhe o que ela estava buscando e mostrou-lhe que ela precisava apenas Dele. Acima de tudo, Ele cumpriu Seu próprio desejo de apresentar a essa mulher o “dom de Deus”.
Os discípulos ainda têm muito a aprender. Eles devem sentir que algo especial aconteceu, pois não perguntam à mulher o que ela está procurando, nem ao Senhor por que Ele está falando com ela.
28 - 30 O testemunho da mulher
28 Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens: 29 Vinde e vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito; porventura, não é este o Cristo? 30 Saíram, pois, da cidade e foram ter com ele.
A mulher não deixa o Senhor, mas deixa seu jarro de água. O jarro de água é o símbolo de sua labuta diária. Ela os deixa para trás. Ela é completamente arrebatada pela novidade que foi revelada ao seu coração e por quem ela acolheu em seu coração: Cristo. Um novo mundo se abriu para ela, com novos afetos, novas obrigações, mas também com uma nova força que a eleva acima de seu trabalho árduo terreno. Cristo tomou conta de seu coração e lhe deu a força para dar testemunho Dele.
Ela quer ir e contar às pessoas da cidade sobre esse encontro especial que mudou tudo em sua vida. Ela está livre de seus pecados e tem um futuro glorioso. Enquanto viver, ela sempre poderá conhecer melhor o Pai por meio do Filho e adorá-Lo em troca.
Ela fala sem pudor sobre Cristo como Aquele que lhe mostrou seus pecados, mas também a libertou deles. Para ela, Ele ainda é “um homem”, mas ao mesmo tempo também é “o Cristo”. Ela está tão absorvida pela novidade que se torna – sem pensar nisso – uma proclamadora. Ela proclama Cristo com toda a plenitude de seu coração e com toda a simplicidade.
Seu testemunho tem um grande impacto. Todos os que a viram e ouviram e a conheceram devem ter notado a grande mudança que ocorreu nela. Um testemunho tão entusiasmado e pessoal tem grande poder porque não se trata apenas de sentimentos, mas também afeta a consciência. Seu testemunho é o início de um reavivamento na cidade. Todos saem da cidade e vêm para o Salvador. O testemunho de Ló teve um resultado completamente diferente. Quando ele testemunhou o que lhe fora dito, riram-se dele (Gên 19:14).
31 - 34 A comida do Senhor
31 E, entretanto, os seus discípulos lhe rogaram, dizendo: Rabi, come. 32 Porém ele lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. 33 Então, os discípulos diziam uns aos outros: Trouxe-lhe, porventura, alguém de comer? 34 Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra.
Em seu cuidado com o Mestre, os discípulos perguntam a Ele, de forma bem-intencionada, se não quer comer. Eles voltaram com a comida que haviam comprado (verso 8). Mas, por mais bem-intencionados que sejam, mais uma vez os discípulos mostram que não conhecem o Senhor melhor, nem sabem muito mais sobre Ele do que a mulher. Eles, assim como a mulher, só conseguem pensar nas necessidades do corpo, enquanto o Senhor está ocupado com as necessidades espirituais da mulher.
Então, Ele lhes fala sobre um tipo de alimento que Ele tem de comer e que eles não conhecem. Esse alimento é que, por amor ao Pai, Ele faz a Sua vontade (verso 34). Esse é o alimento que dá força ao cansado e oferece força em abundância ao cansado (Isa 40:29-31). Cristo viveu e trabalhou com o poder desse alimento, e nisso Ele também é um exemplo para nós.
Os discípulos não entendem as implicações das palavras do Senhor. Eles ainda só conseguem pensar em fontes terrenas quando se trata de satisfazer as necessidades terrenas. Uma fonte celestial e especialmente o Pai, por meio de quem as necessidades espirituais são satisfeitas, ainda estão além da imaginação deles. Eles ainda não conhecem o Pai e ainda não estão completamente concentrados em fazer a vontade do Pai, enquanto o Senhor Jesus conhece o Pai e está completamente concentrado em fazer a Sua vontade.
Em seguida, o Senhor diz em que consiste Seu alimento e o que Lhe dá força. Como um ser humano obediente e dependente, Ele extrai Sua força do cumprimento da vontade do Pai, a quem Ele aqui apresenta como Aquele que O enviou para realizar Sua obra. O cumprimento de Sua obra é que Ele torna conhecido o nome de Seu Pai e O glorifica (Joã 17:4).
35 - 38 A colheita, o semeador e o ceifeiro
35 Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: levantai os vossos olhos e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa. 36 E o que ceifa recebe galardão e ajunta fruto para a vida eterna, para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem. 37 Porque nisso é verdadeiro o ditado: Um é o que semeia, e outro, o que ceifa. 38 Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.
O Pai O enviou a um mundo sob julgamento, pois o pecado do homem é abundantemente claro. Ao mesmo tempo, nessa situação, a oferta da graça de Deus pode vir à tona de forma ainda mais clara. O Evangelho chega onde a depravação total do homem é claramente demonstrada e, portanto, vai além de todos os limites.
Com seu exemplo, o Senhor dá continuidade a um ditado conhecido em relação à colheita. Pelo grão no campo, eles veem quanto tempo levará até a colheita. O Senhor agora relaciona isso à proclamação do Evangelho. Ele lhes diz para erguerem os olhos e olharem para os campos cheios de homens. Eles verão que o tempo da colheita já chegou e que, portanto, o trabalho deve ser feito por meio da pregação do Evangelho a fim de realizar a colheita.
O Senhor os incentiva a colher, oferecendo-lhes a perspectiva de recompensa. Ele também fala de colher frutos para a vida eterna, pois todo aquele que crê recebe a vida eterna. Que motivo poderoso para trabalhar para o Senhor Jesus! Somado a isso está a grande alegria tanto para o semeador que começou o trabalho quanto para aquele que colhe e tem permissão para terminar o trabalho.
O Senhor não fala aqui sobre o trabalho da semeadura (como, por exemplo, em (Mat 13:3-9), mas apenas sobre a colheita. Ele coloca o resultado em primeiro plano. Em conexão com a glorificação do nome do Pai, o trabalho característico é a colheita. As atividades são diferentes, mas tanto a semeadura quanto a colheita são necessárias para alcançar o bom resultado desejado. Cada um tem seu lugar na obra do Senhor, assim como cada um tem o seu no Corpo de Cristo (1Cor 12:14). Embora Ele também fale sobre a semeadura, o trabalho típico dos apóstolos é a colheita.
Ele reconhece plenamente o serviço fiel de Seus obreiros em dias passados. Esses são os profetas que falaram pelo Espírito de Cristo sobre o Salvador e sobre os sofrimentos que viriam sobre Cristo e as glórias posteriores (1Ped 1:10). O que eles semearam não foi em vão. O tempo da colheita estava sendo aguardado, mas amanheceu com a vinda do Filho de Deus. Aquele que tem permissão para levar os homens ao Senhor tem a oportunidade de fazer isso porque outros, antes dele, já falaram a essas pessoas sobre Ele. Ele pode então dar o empurrão final, falar a palavra libertadora que, sob a ação graciosa do Espírito de Deus, leva alguém a se render ao Senhor Jesus.
39 - 42 O Salvador do mundo
39 E muitos dos samaritanos daquela cidade creram nele, pela palavra da mulher, que testificou: Disse-me tudo quanto tenho feito. 40 Indo, pois, ter com ele os samaritanos, rogaram-lhe que ficasse com eles; e ficou ali dois dias. 41 E muitos mais creram nele, por causa da sua palavra. 42 E diziam à mulher: Já não é pelo que disseste que nós cremos, porque nós mesmos o temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Cristo, o Salvador do mundo.
É lindo ver como Deus abençoou o simples testemunho dessa mulher. Por meio de seu testemunho, muitos passaram a acreditar no Senhor Jesus. E em que consistiu seu testemunho? Em nada mais do que a percepção de que sua consciência foi trazida à luz. Ela aprendeu a se reconhecer como pecadora à luz de Deus. Mas a luz não a consumiu, pois veio a ela por meio Dele, que ao mesmo tempo lhe revelou o amor do Pai. Seu testemunho honesto é uma boa evidência de que seu coração não esconde nada e aprecia o valor da graça. Isso é diferente do uso indevido da graça como cobertura para o pecado (Jud 1:4).
Por meio do testemunho da mulher, os samaritanos são atraídos para a graça e a verdade reveladas em Cristo. Eles se achegam a Ele e pedem que Ele permaneça com eles. Esse é sempre o resultado quando o Espírito realmente trabalha no coração e na consciência. Alguém que está convencido dessa forma sempre desejará que o Senhor Jesus permaneça com ele, mesmo que não entenda completamente quem Ele é (Luc 24:29). Pode ser também que alguém que esteja convencido de Cristo deseje permanecer com Ele (Luc 8:38). Aí você vê o mesmo desejo.
A resposta do Senhor a esse desejo depende do trabalho que o Senhor quer que o novo convertido faça. Nesse caso, Ele responde ao pedido deles de ficar com eles por mais dois dias. Esses foram dias especiais em que Ele lhes ensinou muitas coisas sobre o Pai. O resultado foi que ainda mais pessoas creram Nele. Elas creram por causa da Sua Palavra, sem pedir um sinal. Primeiro, Ele é reconhecido por um indivíduo como profeta (verso 29), depois por muitos como o “Salvador do mundo”.
Ele é o Salvador, não apenas para os judeus, mas para o mundo (1Joã 4:14). Os samaritanos que passaram a crer Nele são a prova. Eles O ouviram e estão interiormente convencidos por Sua Palavra de que Ele também veio por eles para salvá-los.
Quando alguém crê na Palavra de Cristo, é estabelecido um relacionamento entre a alma e Ele. Ele se faz conhecido por meio do que diz. Foi assim naquela época, e não é diferente hoje. Aqui a Palavra de Cristo recebe total apreciação; a fé recebe o abençoado resultado de saber quem Ele realmente é.
43 - 45 O Senhor vai para a Galileia
43 E, dois dias depois, partiu dali e foi para a Galiléia. 44 Porque Jesus mesmo testificou que um profeta não tem honra na sua própria pátria. 45 Chegando, pois, à Galiléia, os galileus o receberam, porque viram todas as coisas que fizera em Jerusalém no dia da festa; porque também eles tinham ido à festa.
Após o término dos dois dias, o Senhor sai do território de Samaria para tomar Seu lugar novamente entre os desprezados e humildes na Galileia. Esse, de acordo com a profecia de Isaías, é o território de Seu ministério (Isa 9:1-2). Ele é de fato o Salvador do mundo, mas não se esquece de Seu povo Israel. O filho do oficial real é uma ilustração disso. Depois dos dois dias de testemunho no mundo – para nós uma figura do tempo presente, quando o Senhor Jesus é apresentado como Salvador do mundo e um povo é formado para adorar o Pai – Ele retoma a conexão com Seu povo Israel.
Por um lado, Ele cumpriu a profecia de Isaías ao se mudar para a Galileia. Por outro lado, Ele saiu da Judeia porque eles não O queriam lá. Ele não recebe ali a honra que lhe é devida. Mas Ele não veio para reivindicar essa honra, por isso deixou a Judeia. Ele não veio para buscar Sua própria honra, mas a honra dAquele que O enviou.
Na Galileia, Ele recebe honra. Eles o recebem. Isso não tem nada a ver com a fé em Suas palavras, como aconteceu com os samaritanos, mas com o que viram dEle em Jerusalém. Lá eles viram como Ele tratava as pessoas com graça e as curava.
46 - 54 O filho de um oficial do rei é curado
46 Segunda vez foi Jesus a Caná da Galiléia, onde da água fizera vinho. E havia ali um oficial do rei, cujo filho estava enfermo em Cafarnaum. 47 Ouvindo este que Jesus vinha da Judéia para a Galiléia, foi ter com ele e rogou-lhe que descesse e curasse o seu filho, porque já estava à morte. 48 Então, Jesus lhe disse: Se não virdes sinais e milagres, não crereis. 49 Disse-lhe o oficial: Senhor, desce, antes que meu filho morra. 50 Disse-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. E o homem creu na palavra que Jesus lhe disse e foi-se. 51 E, descendo ele logo, saíram- lhe ao encontro os seus servos e lhe anunciaram, dizendo: O teu filho vive. 52 Perguntou-lhes, pois, a que hora se achara melhor; e disseram-lhe: Ontem, às sete horas, a febre o deixou. 53 Entendeu, pois, o pai que era aquela hora a mesma em que Jesus lhe disse: O teu filho vive; e creu ele, e toda a sua casa. 54 Jesus fez este segundo milagre quando ia da Judéia para a Galiléia.
O Senhor chega novamente a Caná da Galileia. Como um lembrete, João acrescenta que esse era o lugar onde Ele havia transformado água (de purificação) em vinho (de alegria). Nesse lugar, porém, não há mais alegria, pois a morte ameaça se instalar ali. Em Cafarnaum, há um oficial real, alguém da corte de Herodes, cujo filho está doente. É uma doença que levará à morte, a menos que aconteça um milagre de Deus.
Nesse momento, o Senhor visita Caná novamente. Aqui também Ele está no tempo certo para mostrar a glória do Pai. Além da alegria, Ele também traz vida e recuperação. O oficial demonstra fé em Cristo. Ele ouviu falar que Ele veio para a Galileia. Sua reputação o precedeu.
O oficial vem de Cafarnaum para Caná e procura o Senhor Jesus. Ele pede que Ele venha e lhe conta sua necessidade. Trata-se de seu filho, que está tão doente que está morrendo. Por isso, ele pede que Ele cure o filho. Embora o oficial acredite no poder de cura de Cristo, sua fé é limitada. Ele acha que o Senhor tem de ir até o filho e só pode curá-lo por meio de Sua presença pessoal. Mas a presença ou ausência não tem significado para o Filho de Deus. Essas são apenas circunstâncias sobre as quais Ele, que é Deus, é exaltado.
Ele aponta para o oficial a natureza de sua fé, que exige sinais e maravilhas. Essa é a marca típica da fé judaica, que acredita somente quando vê evidências. A fé de um centurião gentio foi além (Luc 7:7). Embora as palavras do Senhor deixem clara a fraqueza da fé do oficial real, a fé fraca do oficial persiste. Ele não desanima, mas suplica ao Senhor que venha com ele, antes que seu filho morra.
Quando o Senhor testa a fé, Seu propósito é tornar o milagre ainda maior. Por meio de sua fé perseverante, o oficial real recebe mais do que pede e espera. Ele recebe uma resposta direta. Por meio de sua perseverança, ele demonstra marcas de fé genuína. Ele acredita na palavra de Deus, sem sinais, prodígios e sentimentos. Ele não insiste mais para que o Senhor o acompanhe, mas vai com fé.
O Senhor é tão complacente que o oficial nem mesmo precisa esperar até chegar em casa para ver com seus próprios olhos o resultado da palavra de Cristo e sua fé nela confirmada. Enquanto ele ainda está a caminho, seus servos vêm ao seu encontro com a notícia de que seu filho está vivo. Eles usam as mesmas palavras que Cristo usou quando falou que seu filho estava vivo, sem tê-lo ouvido dizer essas palavras. Eles viram os efeitos das palavras de Cristo no momento em que Ele as proferiu. Lá eles viram a vida voltar ao menino que estava doente até a morte.
Os servos confirmaram ao oficial o que o Senhor havia dito. O oficial quer saber em que momento houve a melhora. Os servos devem ter vigiado ainda mais a condição do menino durante a ausência de seu senhor, para que pudessem lhe dizer o momento exato em que as coisas melhoraram. Isso indica um bom entendimento entre o oficial e seus servos. O pai também sabe que horas foram quando o Senhor lhe disse que seu filho estava vivo.
As palavras do Senhor são vida. Nele está a vida, e Ele compartilha a vida por causa da fé. O resultado não é apenas vida para o filho, mas também para o oficial real e toda a sua família, pois todos passaram a crer no Filho de Deus.
João chama esse milagre de o segundo sinal do Senhor Jesus. O primeiro sinal foi sobre alegria, este sinal é sobre vida. Sem vida, que Ele comunica, não pode haver alegria.