1 - 8 Colheita de espigas no sábado
1 Naquele tempo, passou Jesus pelas searas, em um sábado; e os seus discípulos, tendo fome, começaram a colher espigas e a comer. 2 E os fariseus, vendo isso, disseram-lhe: Eis que os teus discípulos fazem o que não é lícito fazer num sábado. 3 Ele, porém, lhes disse: Não tendes lido o que fez Davi, quando teve fome, ele e os que com ele estavam? 4 Como entrou na Casa de Deus e comeu os pães da proposição, que não lhe era lícito comer, nem aos que com ele estavam, mas só aos sacerdotes? 5 Ou não tendes lido na lei que, aos sábados, os sacerdotes no templo violam o sábado e ficam sem culpa? 6 Pois eu vos digo que está aqui quem é maior do que o templo. 7 Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes. 8 Porque o Filho do Homem até do sábado é Senhor.
O décimo segundo capítulo é um ponto de inflexão em que uma fase chega ao fim. O coração dos líderes é totalmente revelado aqui. O capítulo começa com dois eventos que acontecem no sábado que deixam claro o que os líderes desejam. Eles haviam tornado o mandamento do descanso sabático mais difícil com seus próprios mandamentos e leis especiais. Deus estabeleceu o sábado como um dia de bênção, descanso e recreação. Mas um homem legalista não tem senso por bênçãos. Ele quer proibir os discípulos de desfrutar os dons de Deus.
Os fariseus não estão interessados no fato de os discípulos agirem inteiramente de acordo com a lei (Deu 23:25). Para eles, só importa que tudo esteja externamente correto. E se eles decidiram algo para essa aparência externa, então o povo deve aderir a isso. Portanto, eles confrontam o Senhor sobre a conduta de Seus discípulos. Mas o Senhor cuida do assunto, porque Ele concede a seus discípulos a bênção de Deus.
Em sua resposta, o Senhor não se refere apenas ao que Deus permitiu na lei, e Ele não fez exceção para o sábado. Em vez disso, Ele ensina uma lição importante aos fariseus. Ele perguntou para eles sobre algo que Davi fez quando ele e seus companheiros estavam com fome (1Sam 21:1-6). Nessa ocasião, Davi fez algo que era realmente proibido, porque apenas os sacerdotes podiam comer os pães da proposição (Lev 24:5-6). Mesmo assim, Davi não recebeu nenhuma reprovação neste caso. Ele era o rei ungido e estava fugindo de Saul. O povo não o reconheceu como rei. Essa era exatamente a situação do Senhor Jesus naquele momento.
Se o ungido Rei Davi teve que fugir de seu próprio povo, o povo de Deus negou seu fundamento e o que os pães da proposição realmente significavam está perdido. Eles então não representam mais o povo de Deus, como Ele pretendia que representassem. Manter um ritual exterior em tal situação, a fim de correr o risco de, o ungido de Deus perecer de fome, nada mais seria do que um “culto de adoração” puramente formal. Deus nunca teve tal coisa em mente ao instituir os pães da proposição. Quando o rei ungido é perseguido por seu próprio povo, os pães da proposição se tornam pães comuns e podem ser consumidos por aqueles que dependem deles.
Com este exemplo, o Senhor mostra o pecado e o declínio total de Israel. O verdadeiro rei, Davi, é desprezado e perseguido em favor do rei que o próprio povo queria. É exatamente assim de novo agora. O pecado de Israel profanou o pão sagrado. Deus não pode aceitar nada como santo de um povo que vive em pecado. E quando os discípulos do verdadeiro Rei estão com fome, como os seguidores de Davi naquela época, eles podem comer com segurança o que Deus lhes oferece, mesmo quando é sábado.
O Senhor dá ainda outro exemplo que finalmente deixa de lado a conversa deles, sobre a profanação do sábado. Ele se refere aos sacerdotes que fazem o trabalho necessário no templo no sábado. Em todo caso, isso dizia respeito ao sacrifício prescrito para o sábado (Núm 28:9-10), bem como ao holocausto diário, que também não devia ser negligenciado no sábado (Êxo 29:38). Esses sacrifícios foram necessários para que Deus pudesse continuar a habitar no meio de um povo pecador. Os sacerdotes tinham que trabalhar ainda mais no sábado do que nos outros dias e não tinham absolutamente nenhum descanso no sábado. Então Deus não agiu de acordo com regras estritas, mas permitiu que os sacerdotes fizessem muito trabalho no sábado porque estava relacionado ao culto de adoração. O sábado era o centro da antiga aliança; nada era tão característico disso quanto o sábado.
A partir desses dois exemplos, fica claro que Israel era um povo de pecadores. Em um caso, isso ficou claro pela perseguição do rei ungido, que tornava os pães da proposição em pão normal; no outro caso, pelos sacrifícios que necessariamente precisavam ser oferecidos no sábado.
Portanto, o Senhor deixou claro que Deus não será limitado por suas regras quando seu povo o abandonar. Além disso, o Senhor aponta para si mesmo, que é ainda maior do que o templo. Ele não é apenas o ungido de Deus a quem eles perseguem – Ele é o próprio Deus que governa todo o ministério do templo. Ele determina como servir a Deus, não os fariseus formalistas. Para eles, importa apenas o exterior, mas a Deus importa o interior.
Os fariseus condenaram os discípulos inocentes porque eles não tinham noção de misericórdia. Os legalistas nunca são misericordiosos. Eles oprimem os pobres e colocam fardos sobre eles. Portanto, os fariseus olhavam apenas para o sacrifício e não para o coração. Mas a misericórdia vem do coração, e Deus a busca.
Assim como o Senhor é maior do que o templo, Ele também é Senhor do sábado, que portanto não tem força obrigatória para Ele. Ele é o mestre e pode dispor dele como achar melhor. Ele estabeleceu o sábado e, portanto, não está sujeito a ele. O sábado é uma ilustração do reino de paz no qual Ele governará toda a terra como o grande Rei. Então, todos verão que, Ele como Filho do homem, é o Senhor de toda a terra.
9 - 14 Curando a mão mirrada
9 E, partindo dali, chegou à sinagoga deles. 10 E estava ali um homem que tinha uma das mãos mirrada; e eles, para acusarem Jesus, o interrogaram, dizendo: É lícito curar nos sábados? 11 E ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que, tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará mão dela e a levantará? 12 Pois quanto mais vale um homem do que uma ovelha? É, por conseqüência, lícito fazer bem nos sábados. 13 Então disse àquele homem: Estende a mão. E ele a estendeu, e ficou sã como a outra. 14 E os fariseus, tendo saído, formaram conselho contra ele, para o matarem.
Depois de caminhar pelos campos, o Senhor vai à sinagoga. Mais uma vez, algo acontece no sábado. O primeiro evento foi sobre ele mesmo e seu poder sobre o sábado. A segunda é sobre sua obra de misericórdia, para a qual o sábado é particularmente adequado. Ao fazer isso, Ele mostra que o sábado é um dia de bênção.
Agora, há um homem na sinagoga com a mão mirrada. Com aquela mão, o pobre homem não conseguia arrancar espigas e esfregá-las. Portanto, ele ainda não era capaz de desfrutar da bênção do sábado. O homem não pede cura, mas o Senhor conhece seu desejo não formulado.
Os fariseus também estão presentes na sinagoga e são observadores atentos. Aqui eles vêem alguém com uma doença e alguém que conhecem como o Misericordioso. Em sua astúcia maliciosa, eles presumem corretamente que o Senhor deseja curar o homem. E em sua deliberação tola, eles acreditam que esta seria uma excelente oportunidade para fazer ao Senhor uma pergunta traiçoeira. O Senhor permite que eles façam isso. Então, Ele tem a oportunidade de trazer à luz sua glória, mas também a hipocrisia deles, e eles caem na armadilha que prepararam para Ele.
Eles perguntam para Ele se é lícito fazer o bem e curar no sábado. Que pergunta! Esta questão por si só revela seu pensamento limitado e legalista. Isso fica ainda mais claro pela comparação que o Senhor faz diante deles, porque deixa claro que eles não teriam nenhum problema de consciência no sábado se fosse para seu próprio benefício. Para isso, com certeza abririam uma exceção. Mas curar no sábado estava fora de questão para eles. Tal coisa não constava em suas regras e, portanto, não era permitido!
O Senhor desmascara a loucura de tal pensamento legalista. Sua conclusão deve tê-los acertado agudamente. Mas o Senhor agora se dirige ao enfermo. Ele mesmo tinha que fazer algo. Ele teve que estender a mão para o Senhor e receber a bênção. Ele faz o que o Senhor diz, e bênçãos vêm ao seu encontro. Mas nem a palavra clara nem o ato de cura do Senhor levam os fariseus à conversão. Pelo contrário: a prova da sua graça é a razão para eles saírem. Eles não podem mais suportar a presença de tanta graça e verdade. Quando eles estão fora, fora da esfera da graça, eles imediatamente começam a traçar planos para matá-Lo. Quem se afasta conscientemente da presença de Cristo, revelará cada vez mais ser seu inimigo. O que os fariseus acabaram de ouvir e ver foi uma derrota. Em vez de aceitar isso, eles sentem ainda mais, como a posição e a reputação deles entre o povo está cada vez mais ameaçada. Mas eles definitivamente não querem perdê-la. Para se firmar, preferem buscar maneiras de se livrar do Deus revelado na bondade.
15 - 21 Eis aqui, meu servo
15 Jesus, sabendo isso, retirou-se dali, e acompanhou-o uma grande multidão de gente, e ele curou a todos. 16 E recomendava-lhes rigorosamente que o não descobrissem, 17 para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta Isaías, que diz: 18 Eis aqui o meu servo que escolhi, o meu amado, em quem a minha alma se compraz; porei sobre ele o meu Espírito, e anunciará aos gentios o juízo. 19 Não contenderá, nem clamará, nem alguém ouvirá pelas ruas a sua voz; 20 não esmagará a cana quebrada e não apagará o morrão que fumega, até que faça triunfar o juízo. 21 E, no seu nome, os gentios esperarão.
As deliberações secretas dos fariseus são bem conhecidas do onisciente. Por isso Ele está se retirando deste lugar. Mas isso não permanece oculto; muitas pessoas o seguem. O Senhor continua agindo em graça com eles e curando todos os que precisam de cura. Ele os adverte para que eles não O divulguem. Ele não quer ganhar popularidade por meio de suas ações, que os fariseus estavam tão ansiosos por realizar.
Mas todas as suas ações aconteceram diante dos olhos de seu Pai, que vê em segredo. Ele não buscava honra dos homens. Desta forma, Ele cumpre a profecia de Isaías que assim o anunciou. Jeová falou para Isaías sobre seu servo escolhido (Isa 42:1-4). Esse foi o Senhor Jesus. Ele até chamou esse servo de “meu amado”. Não havia apenas uma relação de obediência entre Deus e o servo, mas também uma relação de amor.
O Senhor Jesus conhecia o amor do Pai por Ele. Este amor era a razão de seu serviço ser uma pura alegria para Ele – apesar dos planos assassinos dos líderes do povo e da incompreensão da multidão. Ele sabia o prazer que Jeová havia encontrado Nele por causa de sua vida totalmente consagrada. Isso ficou evidente desde o início. É por isso que Deus colocou Seu Espírito sobre Ele (Mat 3:16). Vemos aqui a alegria do Deus trino: o Pai coloca seu Espírito sobre seu Filho. Por causa deste bom prazer e do Espírito que o Pai lhe deu, o Senhor Jesus tem o direito de anunciar o julgamento, não só sobre Israel, mas sobre todos os povos. Isso indica seu domínio sobre todos os povos. Este foi o resultado, de seu próprio povo rejeitá-lo.
Seu proceder atual, no entanto, parece muito diferente. Ele ainda é o homem humilhado que não quer chamar a atenção. Ele não está clamando por atenção. Pelo contrário – ele próprio dedica toda a sua atenção àqueles que estão prestes a ser destruídos ou apagados. Uma cana torcida não tem valor (Isa 36:6), pensamos em um coração quebrantado, pisoteado e maltratado. O Senhor pode transformar esta cana torcida em um tubo de órgão ou uma cana de medida para a nova Jerusalém (Apo 21:15). É precisamente para aqueles que estão de coração quebrantado que Ele veio (Isa 61:1). Ele não os trata com um cetro de ferro, mas estende o cetro de ouro de sua graça para eles. Ele mesmo foi moído e pisado (Isa 53:5,10; Gên 3:15).
Um pavio fumegante praticamente não libera calor e também não é capaz de inflamar os outros. Freqüentemente, o amor arde tão fracamente em nossos corações que somente Ele, o Onisciente, percebe que ainda resta um pouco de amor. Portanto, aqui vemos seu amoroso cuidado por nós, e que isso nos encoraje. Se alguma vez nos sentirmos como uma cana retorcida que só é bom o suficiente para ser quebrada completamente, ou se pensarmos que nossa luz está brilhando muito mal, então podemos pensar em quão grande é o desejo dEle por nós. Temos permissão para ir a Ele para sermos renovados na graça e receber Dele, uma restauração de nossa força.
Somente quando Ele tiver cumprido plenamente Sua obra com humildade, Ele não apenas proclamará o juízo, mas também o executará. A vitória completa será o resultado glorioso de sua obra em humildade. Os povos que então forem poupados terão esperança em seu nome. Tanto o remanescente de Israel quanto esses povos perceberão que todas as bênçãos dependem apenas Dele e da atitude deles para com Ele. Essa será a situação quando Ele vier à terra pela segunda vez, mas não com humildade como da primeira vez, porém com poder e majestade.
22 - 27 O Senhor Jesus e Belzebu
22 Trouxeram-lhe, então, um endemoninhado cego e mudo; e, de tal modo o curou, que o cego e mudo falava e via. 23 E toda a multidão se admirava e dizia: Não é este o Filho de Davi? 24 Mas os fariseus, ouvindo isso, diziam: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios. 25 Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, disse-lhes: Todo reino dividido contra si mesmo é devastado; e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá. 26 E, se Satanás expulsa a Satanás, está dividido contra si mesmo; como subsistirá, pois, o seu reino? 27 E, se eu expulso os demônios por Belzebu, por quem os expulsam, então, os vossos filhos? Portanto, eles mesmos serão os vossos juízes.
O homem que agora está sendo levado ao Senhor é extremamente pobre. Ele está possuído por um demônio, que o tem tanto em seu poder, que ele não vê nada e não pode dizer nada. Ele não sabe onde está e não pode pedir ajuda. Felizmente, o Senhor está presente com sua misericórdia e há homens para trazê-lo ao Senhor. O Senhor responde à fé deles com cura. Nesse homem, vemos retratado o estado atual de Israel. O povo como um todo estava cego para a glória do Senhor Jesus e não veio a Ele para reconhecê-lo como Seu Messias.
Os homens agora estão profundamente impressionados com a cura. Eles até sugerem que Ele é o filho de Davi. No entanto, eles não vão além; seus corações não são realmente tocados. Os fariseus, porém, que ouvem essa suposição, querem absolutamente impedir que os homens pensem mais nessa direção, querem cortar esse pensamento pela raiz e, portanto, acusam o Senhor com a maior blasfêmia possível.
Uma acusação mais dura e insultuosa, do que esta, não é concebível, de Ele operar seus milagres da graça, no poder do príncipe dos demônios, ou seja, o próprio Satanás. Ao mesmo tempo, é finalmente expresso, que os fariseus não estão prontos para reconhecer nada de Deus no Senhor Jesus.
Que Deus opera em bondade e graça no meio de seu povo por meio de Cristo, não pode ser negado de forma alguma. Os fariseus, portanto, não estão enganados, mas preocupados em negar o inegável. Eles se opõem contra um melhor saber, em plena consciência e com vontade, eles O rejeitam.
O Senhor não respondeu a uma blasfêmia anterior semelhante (Mat 9:34). Mas agora Ele responde a isso. Com um exemplo da vida cotidiana, Ele apela para a mente sóbria e, assim, prova o total absurdo da declaração deles. Então, Ele mostra com seu argumento que eles não têm discernimento. Qualquer pessoa sensata sabe, que nada pode manter-se que esteja dividido em si mesmo – independentemente de ser um império ou uma família. O conflito interno significa queda, não sucesso. A conclusão é clara: é impossível para Ele expulsar demônios por Belzebu.
O Senhor adiciona um segundo argumento contra a afirmação absurda deles. Este é o argumento que Ele apresenta como uma questão para eles. Os filhos deles também estavam empenhados em expulsar demônios. Agora, se eles fossem consistentes, eles teriam que dizer que seus filhos também fizeram isso por meio de Satanás. Mas eles nunca iriam querer admitir isso. Pois bem, diz o Senhor, então seus filhos serão os seus juízes. O proceder de seus filhos exporia sua blasfêmia, seria um testemunho de que eles O blasfemaram.
28 - 32 A blasfêmia do espírito
28 Mas, se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é conseguintemente chegado a vós o Reino de Deus. 29 Ou como pode alguém entrar em casa do homem valente e furtar os seus bens, se primeiro não manietar o valente, saqueando, então, a sua casa? 30 Quem não é comigo é contra mim; e quem comigo não ajunta espalha. 31 Portanto, eu vos digo: todo pecado e blasfêmia se perdoará aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens. 32 E, se qualquer disser alguma palavra contra o Filho do Homem, ser-lhe-á perdoado, mas, se alguém falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem neste século nem no futuro.
O Senhor agora está dizendo para eles a verdadeira origem de sua ação: Ele age por meio do Espírito de Deus. Isso significa que o reino de Deus havia chegado a eles. Claro, eles não queriam reconhecer isso, mas era o fato inegável. Em Cristo, Deus estava presente para estabelecer seu reino. Por isso que Ele entrou na casa do forte, ou seja, do diabo, e roubou seus bens, ou seja, os homens que estavam sob seu poder. O Senhor já havia amarrado o forte no deserto quando o derrotou com a palavra de Deus. Então Ele passou pela terra fazendo o bem e curando todos os que eram dominados pelo diabo (Atos 10:38). Finalmente, na cruz, Ele esmagará a cabeça do diabo.
Ao se opor ao reino do mal e roubar sua casa, um homem só pode ser um seguidor ou um opositor. Não existe neutralidade. Qualquer um que não se posicionou inequivocamente ao seu lado estava contra Ele. O Senhor trabalhou incansavelmente para juntar para o reino dos céus. Os que não trabalharam ao seu lado, trabalharam pelo adversário, pela dispersão, e assim se revelaram inimigos do reino.
A gravidade do pecado dos fariseus é tão grande, porque eles sabem muito bem, que o Senhor é bom e atua por meio do Espírito Santo, mas atribuem isso a Satanás, apesar de todas as evidências. Ao fazer isso, eles são culpados de pecado contra o Espírito Santo que não pode ser perdoado. Este pecado é diferente de qualquer outro pecado. Para todos os outros pecados existe perdão. Mesmo aqueles que se opõem ao Senhor Jesus como o Filho do homem podem contar com o perdão se entenderem e confessarem seus pecados. Todos os outros pecados são dirigidos contra o Deus triúno, ou seja, contra o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Por que a blasfêmia contra o Espírito é algo tão especial? Neste pecado se trata de Cristo na terra, em quem o próprio Espírito Santo é expresso. Está completamente fora de questão atribuir a Satanás, qualquer coisa que Cristo faça. Quem quer que declare que o Espírito Santo, que está totalmente expresso em Cristo, é Satanás, só pode fazê-lo com plena consciência. O que o Cristo sem pecado faz está sempre perfeitamente de acordo com o Espírito. Não há nada de pecado ou carne em toda a sua vida e seu ser. Tudo é exclusivamente do Espírito. Alguém pode ficar cego para a glória do Senhor Jesus. Mas se alguém conscientemente atribui os atos do Senhor Jesus realizados pelo Espírito a Satanás, seu coração se endurece em revolta contra Cristo e nunca, jamais se curvará a Ele.
Que a blasfêmia do Espírito tem a ver especialmente com Cristo na terra é evidente pelas palavras que esse pecado não será perdoado “neste século nem no futuro”. Em ambos os casos, é um período de tempo em que Cristo está na terra, ou seja, em sua primeira e segunda vinda. Portanto, não é possível cometer esse pecado nos dias de hoje porque o Senhor Jesus não está na terra agora.
33 - 37 A árvore e seus frutos
33 Ou dizeis que a árvore é boa e o seu fruto, bom, ou dizeis que a árvore é má e o seu fruto, mau; porque pelo fruto se conhece a árvore. 34 Raça de víboras, como podeis vós dizer boas coisas, sendo maus? Pois do que há em abundância no coração, disso fala a boca. 35 O homem bom tira boas coisas do seu bom tesouro, e o homem mau do mau tesouro tira coisas más. 36 Mas eu vos digo que de toda palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no Dia do Juízo. 37 Porque por tuas palavras serás justificado e por tuas palavras serás condenado.
Então o Senhor toma um exemplo da natureza. Todos sabem que uma boa árvore produz bons frutos. Mas quando uma árvore é má, ela não pode produzir bons frutos, apenas frutos ruins. A árvore dá frutos que correspondem à sua essência. Os fariseus são árvores corruptas. Eles são uma “raça de víboras” (Mat 3:7; 23:33), ou seja, incubados por Satanás, descendentes do diabo, e o diabo é seu pai (Joã 8:44; 1Joã 3:8). Por isso não lhes é possível dizer nada de bom. Eles produzem frutos podres de acordo com a árvore podre que caracteriza sua natureza. Em seu coração há uma abundância de maldade que sai de sua boca.
O Senhor agora estende este fato geral da árvore e seus frutos ao homem. O homem bom é aquele que recebeu uma nova vida por meio da conversão e da fé e em quem o Espírito Santo habita. Do tesouro da nova vida e do Espírito Santo, esse homem traz coisas boas, como por ex. vida e paz (Rom 8:6). O homem mau contém apenas a si mesmo, ele é carne por completo. Deste tesouro maligno ele tira as obras da carne (Gál 5:19-21).
As palavras, de forma alguma, não são sem valor, porque estão conectadas ao coração. Elas expressam o que está no interior do homem. O Senhor Jesus é o Verbo de Deus, ou seja, a expressão perfeita de Deus. Ele sempre falou apenas o que o Pai lhe disse para fazer (Joã 12:50). Ele nunca disse uma palavra sem sentido. Os crentes também falam palavras sem sentido, sem qualquer utilidade ou significado. Elas mostram o que se encontra dentro de nós. Devemos então confessar isso.
Os incrédulos nem mesmo perguntam o que Deus quer quando abrem a boca. Eles falam muitas palavras sem valor. No dia do julgamento, eles terão que prestar contas disso, diante do grande trono branco, diante daquele que está assentado no trono, o Senhor Jesus (Apo 20:11-12). Eles não serão capazes de se esquivar, por ex. dizendo que eles queriam dizer coisas muito diferentes, pois o Senhor tem perfeito conhecimento de todos os motivos que moviam o coração quando as palavras eram ditas.
As palavras da boca revelam o estado da alma. Palavras expressam sentimentos e nos mostram a natureza de quem fala, assim como seu comportamento o faz de outra maneira. As palavras têm tal peso que todos serão justificados ou condenados com base em suas palavras (cf. Rom 10:9-10). O Senhor fará um julgamento perfeito sobre o uso de todas as palavras porque Ele sabe de qual fonte elas vêm.
38 - 42 O pedido de um sinal
38 Então, alguns dos escribas e dos fariseus tomaram a palavra, dizendo: Mestre, quiséramos ver da tua parte algum sinal. 39 Mas ele lhes respondeu e disse: Uma geração má e adúltera pede um sinal, porém não se lhe dará outro sinal, senão o do profeta Jonas, 40 pois, como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim estará o Filho do Homem três dias e três noites no seio da terra. 41 Os ninivitas ressurgirão no Juízo com esta geração e a condenarão, porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que está aqui quem é mais do que Jonas. 42 A Rainha do Sul se levantará no Dia do Juízo com esta geração e a condenará, porque veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que está aqui quem é mais do que Salomão.
A malícia incorrigível e o endurecimento dos líderes religiosos tornam-se visíveis na insensibilidade com que exigem dele um sinal precisamente sobre esta admoestação do Senhor. Como se eles fossem acreditar! Mas, em sua resposta, o Senhor levanta um espelho para eles e lhes anuncia um sinal muito especial. Ele os chama de geração “má” e “adúltera”. Interiormente, são “maus” no coração, exteriormente são “adúlteros”, porque todo o seu proceder é mundano (cf. Tia 4:4). O único sinal que recebem Dele é o sinal do profeta Jonas. O que aconteceu com Jonas também aconteceria com Ele. Ele também ficaria na sepultura por três dias, assim como Jonas ficou na sepultura de água por três dias.
Um sinal é mencionado três vezes em conexão com o Senhor Jesus. O primeiro sinal é o do seu nascimento (Luc 2:12). O terceiro sinal é o do Filho do Homem que aparece na sua glória (Mat 24:30). Entre estes dois eventos está agora este sinal de Jonas, que fala da morte e ressurreição do Senhor Jesus. Esses são os três sinais que devem levar os homens a crer. Se isso não for suficiente para eles, eles também não chegarão à fé por meio de milhares de outros sinais.
O Senhor então se refere aos habitantes de Nínive. Após seu retorno da sepultura na água, Jonas foi a Nínive e pregou ali. Da mesma forma, após sua ressurreição e ascensão, o Senhor Jesus faria o evangelho ser pregado a todos os povos. Isso significa que Israel perdeu sua posição especial como povo de Deus. Os ninivitas pagãos foram convertidos após o sermão de Jonas, enquanto o povo de Deus rejeitou Aquele que é mais do que Jonas.
O Senhor adiciona outro exemplo. Ele aponta para a rainha do sul, que também não pertencia ao povo de Deus, mas às outras nações. Mas ela tinha ouvido falar da sabedoria de Salomão e tinha vindo a ele de longe para experimentar sua sabedoria. Dessa forma, ela estava em total contraste com os líderes religiosos que queriam matar Aquele que era mais do que Salomão. Como os homens de Nínive, ela condenará esta raça que rejeita o Senhor Jesus no dia do juízo.
43 - 45 A volta do espírito imundo
43 E, quando o espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares áridos, buscando repouso, e não o encontra. 44 Então, diz: Voltarei para a minha casa, donde saí. E, voltando, acha- a desocupada, varrida e adornada. 45 Então, vai e leva consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e são os últimos atos desse homem piores do que os primeiros. Assim acontecerá também a esta geração má.
Agora o Senhor descreve a situação em que um homem foi libertado de um espírito impuro. O espírito imundo busca uma nova morada, mas não a encontra. Na verdade, o Senhor Jesus está falando sobre Israel e seu futuro. Durante a vida do Senhor Jesus, o povo de Israel não se voltou para os ídolos na sua totalidade, não havia idolatria.
Mas também não havia vida de Deus e com Deus. Portanto, a casa, ou seja, a pessoa, permaneceu vazia. Portanto, quando o espírito imundo volta, ele pode entrar novamente. A casa não está cheia de teias de aranha, mas está limpa e decorada. Não é uma ruína, mas bem cuidada. E ainda está vazia. Isso indica o culto vazio, com rituais externos e uma bela aparência, mas sem a presença da vida de Deus ou para Deus. Não há lugar para o Espírito Santo nesta casa.
Como não há outros habitantes lá, o espírito impuro vê sua chance de convidar outros espíritos para se acomodarem por lá. Um número completo (sete) de espíritos, de um tipo ainda mais maligno, agora acompanha o espírito maligno, e a ruína resultante na casa, a pessoa, é ainda pior do que o estado inicial.
Israel, ainda desprovido de idolatria, não aceitou o Senhor Jesus. Como resultado, permaneceu vazio e se tornou um lugar onde os piores espíritos entram. Isso também acontecerá quando o Anticristo governar “esta geração iníqua” e dominar o serviço do templo. Ali ele levantará o ídolo da besta que surgiu da terra, para que todos possam adorar esta imagem da besta (Apo 13:14-15; 2Tes 2:9-10).
Também é importante na vida de todos que não haja vacância. Caso contrário, o diabo virá e tomará o espaço livre. Em um sentido espiritual, isso também pode ser observado hoje. Pessoas que vivem sem Deus, mas desejam ser espiritualmente ativas de alguma forma, tornam-se presas fáceis de estranhos ensinos de demônios.
46 - 50 A mãe e os irmãos de Jesus
46 E, falando ele ainda à multidão, eis que estavam fora sua mãe e seus irmãos, pretendendo falar-lhe. 47 E disse-lhe alguém: Eis que estão ali fora tua mãe e teus irmãos, que querem falar-te. 48 Porém ele, respondendo, disse ao que lhe falara: Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos? 49 E, estendendo a mão para os seus discípulos, disse: Eis aqui minha mãe e meus irmãos; 50 porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai, que está nos céus, este é meu irmão, e irmã, e mãe.
Enquanto o Senhor está ocupado no ministério, Sua mãe e irmãos querem falar com ele. Porque? Eles querem dizer para Ele, para não falar palavras tão duras? Pode-se ver pela resposta do Senhor que eles não vieram aplaudir Suas palavras.
Os parentes do Senhor obviamente não podem ir até Ele porque Ele está cercado de muitas pessoas. Assim, eles pedem que seu pedido seja encaminhado até que alguém próximo ao Senhor possa avisá-lo. O Senhor se dirige a este mensageiro e pergunta, quem são sua mãe e seus irmãos. Com esta resposta, o Senhor indica que o tempo da união natural entre Ele e Seu povo, ou seja, Israel, segundo a carne acabou.
Seus verdadeiros parentes são seus discípulos. Eles se juntaram a Ele, eles O seguem e aprendem com Ele. Os únicos membros da família que Ele pode reconhecer são aqueles que estão fazendo a vontade de Seu Pai Celestial. Para Ele só importa a conexão que é criada pela palavra de Deus quando alguém a recebe em seu coração e a segue.