1 - 8 Cura de um homem paralítico
1 E, entrando no barco, passou para a outra margem, e chegou à sua cidade. E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado numa cama. 2 E Jesus, vendo a fé deles, disse ao paralítico: Filho, tem bom ânimo; perdoados te são os teus pecados. 3 E eis que alguns dos escribas diziam entre si: Ele blasfema. 4 Mas Jesus, conhecendo os seus pensamentos, disse: Por que pensais mal em vosso coração? 5 Pois o que é mais fácil? Dizer ao paralítico: Perdoados te são os teus pecados, ou: Levanta-te e anda? 6 Ora, para que saibais que o Filho do Homem tem na terra autoridade para perdoar pecados – disse então ao paralítico: Levanta-te, toma a tua cama e vai para tua casa. 7 E, levantando-se, foi para sua casa. 8 E a multidão, vendo isso, maravilhou-se e glorificou a Deus, que dera tal poder aos homens.
Neste capítulo, vemos mais claramente as características do serviço do Senhor, enquanto o capítulo anterior apresenta mais a dignidade de Sua Pessoa. Além disso, a reação dos líderes religiosos à presença do Senhor e aos Seus feitos fica mais evidente aqui em cada evento.
Depois que os gadarenos O declararam uma pessoa indesejável, Ele deixou seu território. Ele vai de barco para Cafarnaum, onde morava (Mat 4:13). Lá ele era conhecido. Lá Ele realizou muitos de Seus milagres e foi visto ali com mais freqüência do que em qualquer outro lugar. Um desses milagres, a cura do paralítico, é descrito agora. Ao libertar os possuídos, o Senhor demonstrou seu poder sobre o diabo e seus anjos. Na cura do paralítico, vemos o Senhor eliminando o poder do pecado e desfazendo as consequências deste.
São quatro amigos que levam o paralítico ao Senhor. O Senhor vê e recompensa a fé tanto dos quatro amigos quanto do paralítico. As primeiras palavras do Senhor, porém, não se referem ao corpo do paralítico, mas à sua alma. Com o incentivo “Filho, tem bom ânimo” Ele encoraja-o, que talvez já esteja desanimado. As palavras “Tende bom ânimo” aparecem sete vezes no Novo Testamento (Mat 9:2,22; 14:27; Mar 10:49; 6:50; Joã 16:33; Atos 23:11).
Depois dessas palavras, o Senhor primeiro aborda a causa de todas as doenças e dores: o pecado. O Senhor conhece todos os pecados que pesam sobre o paralítico. Ele tem que ser liberto disso antes de se levantar e sair. Primeiro a consciência tem que ser aliviada, então também há força para viver para a glória de Deus. As palavras “perdoados te são os teus pecados” devem ter sido um tremendo alívio para o paralítico. Um fardo caiu dele. Ele não podia mais viver com esse fardo; ele o pressionou e paralisou. Mas o Senhor o liberta e tira-o dele. Ele vai carregar esse fardo sobre Si mesmo na cruz. Em vista do que Ele faria na cruz, Ele podia perdoar o paralítico de seus pecados.
O que parecia música para o paralítico não passava de blasfêmia para alguns dos líderes religiosos. São precisamente esses líderes que, neste capítulo e nos capítulos seguintes, têm ódio pelas muitas obras graciosas que o Senhor está fazendo. Eles não expressam a blasfêmia em voz alta, mas o Senhor vê seus pensamentos e todo o mal em seus corações. Ele é Deus, diante de quem tudo está descoberto e revelado; Ele perscruta cada homem (Heb 4:12-13; Slm 139:1).
Ele pergunta a esses líderes o que é mais fácil – perdoar pecados ou curar. Eles não respondem. A resposta é que um é tão fácil para Deus quanto o outro, mas ambos são impossíveis para o homem. Portanto, o Senhor não espera pela resposta, mas sim apresenta evidências de que Ele tem poder para perdoar pecados, curando o paralítico. Ele faz isso com uma palavra de poder, sem uma oração a Deus. Ele é o próprio Deus. E ao mesmo tempo, Ele é o Filho do homem. Como tal, Ele perdoa pecados. Como tal, Ele é o mediador entre Deus e o homem, o homem Cristo Jesus (1Tim 2:5). Mas ele só pode fazer isso porque ele é ao mesmo tempo Deus. Além disso, perdoa pecados “na terra”. A terra é o lugar onde os pecados são perdoados. Eles não serão perdoados nem no céu nem no inferno. Enquanto um homem vive na terra, ele deve confessar seus pecados a fim de receber perdão por eles. Tanto pelo perdão dos pecados quanto pela cura, o Senhor Jesus prova que é Yahweh, o Deus da aliança com seu povo, que agora veio a eles como o Messias (Slm 103:3). Pela palavra do Senhor o homem recebe forças para se levantar e ir para casa.
A multidão vê o que aconteceu. Mas ela só vê o milagre externo. Isso os faz glorificar a Deus. Mas também existe temor. O que eles viram, não os fez ajoelhar-se diante do Senhor Jesus e aceitá-Lo como seu Messias com a confissão de seus pecados. Eles vêem que Ele é homem e, ao mesmo tempo, reconhecem Nele como ser humano o poder de Deus. Mas eles não entendem como podem unir esses dois lados em sua pessoa. Eles vêem Nele um instrumento do poder de Deus, nada mais.
9 - 13 O chamado de Mateus
9 E Jesus, passando adiante dali, viu assentado na alfândega um homem chamado Mateus e disse-lhe: Segue-me. E ele, levantando-se, o seguiu. 10 E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos. 11 E os fariseus, vendo isso, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores? 12 Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas sim, os doentes. 13 Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero e não sacrifício. Porque eu não vim para chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.
À medida que o Senhor segue em frente, Ele passa por uma alfândega. Mateus está sentado lá. Ele é um cobrador de impostos (Luc 5:27), ou seja, um oficial de impostos a serviço dos romanos, a potência dominante. O fato de ele estar sentado na alfândega significa que seu caixa está aberto para que as pessoas possam pagar os impostos com ele. Quando pensamos em cobradores de impostos, geralmente não é com grande simpatia. Para um homem como Mateus, as pessoas também tinham sentimentos negativos, e para ele as coisas iam ainda mais longe. Ele era especialmente odiado porque trabalhava para os dominadores. Ele não esperava a chegada do Messias porque colaborava com o inimigo. No caso dele, vemos como o Senhor também pode livrar uma pessoa de tal situação.
Ele é libertado dessa situação por meio do poderoso chamado do Rei de Deus. Duas palavras são suficientes para mudar completamente a vida de Mateus e dar a ela um objetivo totalmente novo. O poder do chamado do Senhor é tão grande e a atração da pessoa que o chama é tão irresistível que quebra a magia do dinheiro. O poder da palavra do Senhor fez com que o paralítico se levantasse e fosse para casa (versos 7-8). O mesmo poder de sua palavra agora faz Mateus se levantar e segui-lo.
A primeira consequência do chamado do Senhor na vida de Mateus é que ele recebe o Senhor e seus discípulos como hóspedes em sua própria casa. Como um bom discípulo de seu Senhor, ele convidou muitos coletores de impostos e outros pecadores ao mesmo tempo. Em vez de tirar dinheiro de outros, ele agora gasta seu próprio dinheiro dando-lhes a oportunidade de encontrar o Senhor. Os cobradores de impostos e pecadores vêm com o desejo em seus corações de obter o que Mateus obteve: libertação de seus pecados e descanso para suas consciências.
Mas os fariseus não gostam disso. A conduta do Senhor não se ajusta ao seu entendimento de separação. Se Ele realmente viesse de Deus – pensavam eles – então Ele teria tido o cuidado de não andar com essas pessoas. No entanto, eles não expressaram suas críticas ao Senhor, mas aos discípulos. Não é adequado agir assim. Nós também devemos ter cuidado para não expressar críticas de alguém aos outros, isto é, às costas da pessoa em questão. A crítica freqüentemente prova que não há misericórdia. Foi assim com os fariseus. A misericórdia de Deus presente em Cristo era completamente estranha para eles.
O Senhor não deixa os discípulos responderem à questão dos fariseus. Isso pode tê-los envergonhado. Em todo caso, Ele tinha ouvido o que os fariseus falaram sobre Ele aos Seus discípulos, e agora Ele responde. A questão dos fariseus dá ao Senhor a oportunidade de explicar o propósito de seu ministério. Ele veio para curar os enfermos – aqui: os pecadores – isto é, libertá-los do fardo de seus pecados.
Então, Ele dá uma tarefa aos fariseus. Eles ainda não haviam entendido o que Deus deseja. Se o incidente na casa de Mateus foi um exame, eles foram reprovados completamente. O comentário e comportamento deles deixaram claro que eles não tinham nenhuma idéia sobre Deus. Em sua arrogância, eles pensavam que Deus deveria se contentar com seu estilo de vida estrito. Agora o Senhor está dando-lhes uma nova chance, por assim dizer, pedindo-lhes que examinem o que Deus realmente quer dizer com a palavra de Oséias: “Porque eu quero misericórdia e não sacrifício” (Osé 6:6; cf. 1Sam 15:22). Então, eles descobririam que eles próprios são pecadores perdidos que precisam da misericórdia de Deus.
O Senhor conclui sua resposta a eles no verso 13 referindo-se a si mesmo como o cumprimento de Oséias 6:6. Ele não veio para receber sacrifícios dos justos, mas para mostrar misericórdia aos pecadores. Se Ele tivesse vindo para chamar os justos, os fariseus teriam vindo a Ele em massa. Mas agora Ele veio chamar pecadores; Ele também chamou Mateus como um exemplo disso.
14 - 15 Jejum
14 Então, chegaram ao pé dele os discípulos de João, dizendo: Por que jejuamos nós, e os fariseus, muitas vezes, e os teus discípulos não jejuam? 15 E disse-lhes Jesus: Podem, porventura, andar tristes os filhos das bodas, enquanto o esposo está com eles? Dias, porém, virão em que lhes será tirado o esposo, e então jejuarão.
Após o confronto com os fariseus, os discípulos de João Batista vêm ao Senhor com uma pergunta sobre o jejum. Havia horários regulares de jejum (Zac 8:19). Eles aderiram fielmente a ele, assim como os discípulos dos fariseus. Falando de si mesmos em um só fôlego com os discípulos dos fariseus, eles já revelam o espírito pelo qual foram guiados. Pelo fato de ainda serem discípulos de João, não se pode concluir que João fez algum esforço para mantê-los com ele. Vários de seus discípulos tinham acabado de deixá-lo agora, para seguir ao Senhor (Joã 1:35-37) Era assim que João também queria. Mas esses homens se apegam aos ensinamentos de João, embora o Senhor já tivesse vindo. Eles acharam difícil dizer adeus aos hábitos externos; isso é difícil para quem cresceu em um sistema de regras e leis.
Há também outra característica. Os homens legalistas não apenas carregam um jugo desnecessário, mas também querem impô-lo aos outros. Eles julgam os outros e os cobram sobre as liberdades que eles não se permitem devido à sua posição legalista. Essa atitude caracteriza esses discípulos de João. É por isso que eles vêm ao Senhor com suas perguntas. Eles não entendem por que os discípulos do Senhor não jejuam.
Outra causa de sua pergunta é que eles não conhecem o noivo. Quando o Senhor fala sobre o noivo em resposta à sua pergunta, Ele está se referindo a si mesmo e chama seus discípulos de amigos do Noivo. Chegará um tempo, diz o Senhor, em que o Noivo será tirado deles. Chegará o tempo em que Seu povo O rejeitará e Ele ascenderá ao céu.
16 - 17 O novo e o velho
16 Ninguém deita remendo de pano novo em veste velha, porque semelhante remendo rompe a veste, e faz-se maior a rotura. 17 Nem se deita vinho novo em odres velhos; aliás, rompem-se os odres, e entorna-se o vinho, e os odres estragam-se; mas deita-se vinho novo em odres novos, e assim ambos se conservam.
Em seguida, o Senhor usa duas figuras para ilustrar a diferença entre o tempo da lei (= o tempo antes de sua chegada) e o tempo da graça (= o tempo depois de sua chegada). Com essas figuras, o Senhor mostra que as prescrições da lei não devem ser misturadas com a graça.
Portanto, o Senhor usa duas figuras diferentes. Com a figura de um vestido, Ele explica a introdução de um novo sistema exteriormente, uma nova ordem de coisas. Para poder entrar nesta nova ordem, que é o seu reino, a pessoa deve aceitar o evangelho que ele pregou. Por isso ele é chamado à conversão (Mat 4:17). É impossível tornar-se parte deste reino observando a lei ou os princípios legais. Foi assim que os fariseus tentaram entrar no reino.
Mas o Senhor deixa claro que a maneira antiga de guardar a lei e a nova maneira não podem ser harmonizadas. Se o novo remendo (= o evangelho) for colocado no vestido velho (= a lei), o resultado será que ambos serão destruídos. Mas é exatamente isso que vemos em grande parte do cristianismo. Têm sido feitas tentativas de inserir o novo no antigo, mantendo muitos rituais judaicos no cristianismo e adicionando algumas verdades cristãs a eles. Vemos isso, por ex. em uma classe especial de sacerdotes, um altar literal, em roupas especiais, em velas e outras aparências externas que são atribuídos a certos significados espirituais. Essas coisas tornam a aparência externa do cristianismo uma representação errônea do que deveria ser.
Além da aparência externa, o conteúdo do novo não pode ser combinado com o conteúdo do antigo. Isso agora é explicado com a figura dos odres. No cristianismo, assim como na mente de Deus, existem novos homens que estão cheios de uma alegria totalmente nova. O velho, o velho homem, não tem lugar nisso.
O Senhor Jesus traz verdadeira alegria, Ele faz do casamento uma festa (Joã 2:1-10). Só podem participar desta alegria aqueles que se renovam, que se tornaram um novo homem em quem o Espírito Santo habita. Tal pessoa experimenta a “alegria no Espírito Santo”, que é uma das marcas do reino de Deus neste tempo (Rom 14:17).
18 - 19 Um chefe da sinagoga vem ao Senhor
18 Dizendo-lhes ele essas coisas, eis que chegou um chefe e o adorou, dizendo: Minha filha faleceu agora mesmo; mas vem, impõe-lhe a tua mão, e ela viverá. 19 E Jesus, levantando-se, seguiu- o, e os seus discípulos também.
As palavras iniciais desta passagem, “enquanto Ele falava isto a eles”, mostram que há uma conexão com o anterior. A história que se segue é, em certo sentido, uma ilustração disso. Na passagem anterior, o Senhor havia falado de si mesmo como o noivo e a lei. Mas Ele não mencionou a noiva. A razão para isso segue neste incidente. A noiva é Israel. Isso está representado na filha do chefe. Mas essa noiva morreu. Então o Senhor vem a um povo morto que não tem mais nenhuma ligação com ele. E ainda há a fé de que o Senhor pode ressuscitar a filha.
Reconhecemos isso a partir do pedido do pai, que é o chefe da sinagoga. Assim, sua filha cresceu sob o incenso da sinagoga e com a lei. Mas tais condições favoráveis não poderiam mantê-los vivos. Ela morreu. Esta menina é uma figura de Israel sob a lei. A lei prometia vida a Israel se eles guardassem a lei (Lev 18:5). Mas eles não tinham guardado a lei, nem podiam. Isso significava morte.
Agora o Senhor é chamado. Ele vai com o chefe da sinagoga para ressuscitá-la. Seus discípulos também o acompanham. Ele poderia ter ressuscitado a filha à distância com uma palavra, como o servo do centurião (Mat 8:8,13). Mas aquele era um centurião romano. Aqui trata-se de alguém do povo de Israel. É significativo que, sempre que, ao ser discutido o relacionamento do povo com seu Messias, o Messias toca alguém. Sua presença pessoal com seu povo é crucial. Em eventos relacionados com suas relações com outros povos, muitas vezes descobrimos que, à revelia, ele causa mudanças apenas pela palavra de seu poder.
20 - 22 A mulher com fluxo de sangue
20 E eis que uma mulher que havia já doze anos padecia de um fluxo de sangue, chegando por detrás dele, tocou a orla da sua veste, 21 porque dizia consigo: Se eu tão-somente tocar a sua veste, ficarei sã. 22 E Jesus, voltando-se e vendo-a, disse: Tem ânimo, filha, a tua fé te salvou. E imediatamente a mulher ficou sã.
Enquanto o Senhor está a caminho para ressuscitar a filha, uma mulher O toca crendo que ficará curada. E será curada. Isso nos dá a seguinte figura: Cristo veio para acordar o povo de Israel morto, o que Ele fará por completo mais tarde. Ele não está presente na terra agora, mas trabalha no meio do seu povo. Nesse sentido, Ele ainda está a caminho de seu povo para despertá-lo. Mas todo aquele que O aceitar com fé nesse ínterim, em que vivemos agora, será curado.
O Senhor Jesus sempre observará uma fé sincera e genuína. O Senhor nunca se aborreceu com tais interrupções em seu caminho. Com fé, ela toca a orla da sua veste. A orla indica sua humilhação. Apesar de sua humilhação, a mulher vê nele o Emanuel, Deus conosco.
Por causa de seu sofrimento, essa mulher sempre foi excluída do sacrifício pacífico porque era impura. Em todo o tempo de seu fluxo de sangue, ela nunca foi capaz de ter comunhão com o povo de Deus em adoração. Mas agora ela vê o Senhor Jesus. Ela sabe pela fé que Ele pode curá-la.
Enquanto o povo realiza exteriormente o serviço no altar e ela fica do lado de fora, no interior dela há fé naquele que é Deus, revelado na carne. Nele ela vê a possibilidade de ser libertada de seu sofrimento. E o Senhor não a envergonha. Ele a encoraja e age de acordo com sua fé. Sempre haverá bênçãos do Senhor para o indivíduo que tem fé entre a multidão.
23 - 26 A ressurreição da menina
23 E Jesus, chegando à casa daquele chefe, e vendo os instrumentistas e o povo em alvoroço, 24 disse-lhes: Retirai-vos, que a menina não está morta, mas dorme. E riram-se dele. 25 E, logo que o povo foi posto fora, entrou Jesus e pegou-lhe na mão, e a menina levantou-se. 26 E espalhou-se aquela notícia por todo aquele país.
O Senhor vem à casa do chefe da sinagoga. Há muitas pessoas expressando o desespero da situação. Com seu “Retirai-vos”, ele termina os rituais de luto judaico. Para ele, a morte nada mais é do que sono. Quando Ele diz isso, o povo ri Dele. Na ausência de fé, o luto exterior rapidamente se transforma em verdadeiro escárnio. O Senhor não reage a isso de forma alguma, mas afasta a multidão. Eles não estão qualificados para testemunhar a ressurreição.
Em seguida, o Senhor entra no quarto da menina e pega sua mão. Da fonte inesgotável que Ele representa, a força de sua vida flui para a menina. Então ela se levanta. Sempre tem um efeito quando Ele toca alguém, assim como cada palavra que fala tem um efeito. Assim Ele chama o jovem de Naim e o homem adulto, Lázaro de volta à vida (Luc 7:14; Joã 11:43-44).
A ressurreição causa um alvoroço. Em toda parte se houve que a menina foi ressuscitada. Mas não há despertamento entre o povo para vir ao Messias.
O que o Senhor Jesus está fazendo com a menina aqui, Ele fará com Israel após o arrebatamento da igreja, após o período de graça. Por Seu Espírito Ele fará Israel viver. Ezequiel descreve isso de maneira impressionante com a visão do vale com os ossos secos (Eze 37:1-10).
27 - 31 Cura de dois cegos
27 E, partindo Jesus dali, seguiram-no dois cegos, clamando e dizendo: Tem compaixão de nós, Filho de Davi. 28 E, quando chegou à casa, os cegos se aproximaram dele; e Jesus disse-lhes: Credes vós que eu possa fazer isto? Disseram-lhe eles: Sim, Senhor. 29 Tocou, então, os olhos deles, dizendo: Seja-vos feito segundo a vossa fé. 30 E os olhos se lhes abriram. E Jesus ameaçou-os, dizendo: Olhai que ninguém o saiba. 31 Mas, tendo ele saído, divulgaram a sua fama por toda aquela terra.
O Senhor segue novamente. Dois cegos o seguem. Como havia dois possuídos no capítulo 8:28,aqui há dois cegos. O judeu Mateus, que escreve este Evangelho, deseja dar aos seus concidadãos um testemunho suficiente sobre os milagres do Salvador (Deu 19:15). Nos milagres relatados por Mateus, é repetidamente expresso como o Senhor Jesus age em graça com seu povo.
Os cegos apelam à Sua misericórdia invocando-O como Filho de Davi. Isso significa que eles O reconhecem como o Messias, que eles sabiam que Ele faria os cegos verem (Isa 35:5; 42:7). Eles nem mesmo estão pedindo para Ele para abrir os olhos. Esse é o desejo deles, mas muito mais eles percebem que precisam da misericórdia do Senhor Jesus para serem libertados de sua condição miserável.
O Senhor não responde ao seu pedido de ajuda enquanto eles ainda estão a caminho. Ele não faz isso até que entre na casa [Israel] e os cegos tenham vindo a ele. Aqui o Senhor pergunta para eles sobre a fé deles, se Ele é capaz de fazê-los ver. Eles respondem com um sonoro “sim”. Ao adicionar “Senhor”, eles reconhecem seu poder. Por causa dessa confissão, o Senhor toca seus olhos. Este toque do Senhor mostra novamente que podemos ver nos dois cegos uma figura de Israel que será restaurada em sua união com Ele por meio da presença do Senhor. Só então Ele fala a palavra de poder para que seus olhos sejam abertos.
O Senhor os proíbe estritamente de dizer a qualquer pessoa o que Ele fez com eles. Ele não quer ser conhecido por seus graciosos milagres. Eles atraem pessoas, mas não mudam corações. Os homens curados, entretanto, não conseguem guardar para si mesmos e, ao contrário do mandamento do Senhor, eles prestam testemunho Dele em todos os lugares.
32 - 34 Curando um mudo que está obcecado
32 E, havendo-se eles retirado, trouxeram-lhe um homem mudo e endemoninhado. 33 E, expulso o demônio, falou o mudo; e a multidão se maravilhou, dizendo: Nunca tal se viu em Israel. 34 Mas os fariseus diziam: Ele expulsa os demônios pelo príncipe dos demônios.
Depois que os cegos curados saíram, o Senhor se deparou com uma nova emergência. Alguém ou algumas pessoas não citadas pelo nome, mas conhecidas de Deus, trazem um mudo ao Senhor. Sua incapacidade de falar é causada por um demônio. Sem ser questionado, o Senhor expulsa o demônio. Mesmo que não possamos falar quando vamos ao Senhor, Ele sabe o que nosso coração deseja. Ele também conhece a causa de nossa necessidade e pode removê-la.
Podemos ver três efeitos neste milagre. Primeiro, lemos que o mudo falou. Sem dúvida, ele terá agradecido ao Senhor. Em segundo lugar, lemos sobre o impacto do milagre na multidão. Eles ficaram maravilhados. Eles testificam que viram algo que nunca aconteceu em Israel. Mas para por aí – como sempre. Vemos o terceiro efeito nos fariseus. Eles tinham ciúmes da glória do Senhor revelada entre aqueles, sobre os quais queriam ganhar influência.
Eles têm a perversa arrogância de atribuir esse milagre ao maioral dos demônios, isto é, ao próprio diabo. Eles não podem negar que havia uma força sobrenatural operando aqui, mas não querem atribuir essa força a Deus, como se Deus estando com o Senhor Jesus. Como oponentes declarados do Senhor, recorrem à acusação mais presunçosa possível e acusam o Senhor de ter sido guiado pelo próprio diabo. Um pouco mais tarde o Senhor dirá que eles são culpados de um pecado para o qual não há perdão (Mat 12:31).
Nestes três milagres que o Senhor acabou de fazer – ressuscitar uma menina morta, curar os cegos e o mudo – reside uma bela e importante sequência espiritual. Primeiro, é necessário adquirir a vida. Como resultado, ganhamos uma visão das coisas de Deus. E, finalmente, leva ao nosso testemunho de tudo o que Deus nos revelou.
35 - 38 O Senhor é comovido interiormente
35 E percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo. 36 E, vendo a multidão, teve grande compaixão deles, porque andavam desgarrados e errantes como ovelhas que não têm pastor. 37 Então, disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos são os ceifeiros. 38 Rogai, pois, ao Senhor da seara que mande ceifeiros para a sua seara.
A resistência blasfema dos líderes religiosos, como um todo, não pode interromper a carreira de bênçãos do Senhor. Ele não deixa nenhuma cidade ou vila de fora. Aonde quer que vá, Ele ensina, prega e cura, com comoção e compaixão. Pois Ele sabia o quanto as ovelhas de Deus estavam expostas ao perigo e também o quão implacáveis os líderes eram. Ele vê ovelhas exaustas, sem pastores, entregues a lobos cruéis (Eze 34:1-10). Ao mesmo tempo, Ele também as vê como uma grande colheita. Quem está pronto para ir até essas ovelhas e falar-lhes sobre o verdadeiro pastor? Naquela época eram poucos e hoje não é diferente. Mas há uma saída: a oração.
O Senhor diz aos seus discípulos (e a nós, se professamos ser seus discípulos) que devemos pedir ao Senhor da seara que envie trabalhadores para a sua colheita. O Senhor da seara é o próprio Senhor Jesus, veremos isso imediatamente no próximo capítulo (Mat 10:5). Orar por isso é uma coisa, colocar-nos à disposição para sermos enviados é outra coisa. Se orarmos por isso, há uma boa chance de que Ele nos envie também. Não é necessário, mas só o Senhor determina se devemos ir, para onde devemos ir e o que devemos fazer.