1 - 3 Princípio do Evangelho
1 Princípio do evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus. 2 Como está escrito no profeta Isaías: Eis que eu envio o meu anjo ante a tua face, o qual preparará o teu caminho diante de ti. 3 Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas.
Desde o início do evangelho, devemos ter cuidado para não nos esquecermos de que o servo perfeito também é o Filho de Deus. Portanto, sob a orientação do Espírito Santo, Marcos o apresenta antes de tudo em sua glória: Ele é Jesus Cristo, o Filho de Deus. Marcos sustenta isso nos versos 2 e 3 com algumas citações do Antigo Testamento.
Sua dignidade como Filho de Deus mostra que Ele se tornou um servo voluntariamente, sem que ninguém O forçasse a fazê-lo. Um registro de genealogia também está faltando aqui, porque isso não é importante para um servo. Nada é comunicado sobre seu nascimento e juventude. Só há uma coisa importante para um servo: seu serviço.
O “princípio” de que fala Marcos aqui não é, portanto, o da criação (Gên 1:1) e muito menos da sua existência eterna (Joã 1:1). Nem se trata da sua vinda à terra (1Joã 1:1), mas antes, o início do seu serviço na terra (cf. 2Tes 2:13; Flp 4:15). É o começo do evangelho, as boas novas. Jesus Cristo vem com boas notícias de Deus.
Na citação de Malaquias 3, fica claro que aquele, cujo caminho deve ser preparado, é visto em sua divindade, a saber, como “Jeová” (Mal 3:1). Aqui em Marcos diz “diante da tua face” (diante de “tua ...”, que é o Senhor Jesus), e em Malaquias diz que o Senhor diz “antes de mim “, isto é Jeová. O “mensageiro” é João Batista. Ele prepara o caminho no coração das pessoas para que Jeová possa entrar em seus corações. Este homem humilde não é outro senão o Senhor, o próprio Deus, o que também fica evidente na segunda citação. Nele Isaías fala sobre a preparação do caminho “do SENHOR”, e que também não é outro senão o próprio Senhor (Isa 40:3).
O lugar onde João aparece é o deserto. Este lugar indica o estado de morte espiritual que Israel tem aos olhos de Deus. João nada mais é do que uma “voz”. Não é sobre quem ele é, é sobre sua mensagem. A preparação do caminho deve ser feita no coração do homem por meio do arrependimento e da conversão.
“Endireitai” é a mesma palavra em grego que “imediatamente”, uma palavra que aparece com frequência neste evangelho. Se não seguirmos um caminho reto, ou seja, caminhos sem curvas ou desvios, não podemos agir “imediatamente”. O que João faz também é uma atribuição para nós. Nós também devemos pregar que as pessoas devem preparar o caminho do Senhor e imediatamente endireitar seu caminho.
4 - 8 O sermão de João Batista
4 Apareceu João batizando no deserto e pregando o batismo de arrependimento, para remissão de pecados. 5 E toda a província da Judéia e todos os habitantes de Jerusalém iam ter com ele; e todos eram batizados por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados. 6 E João andava vestido de pêlos de camelo e com um cinto de couro em redor de seus lombos, e comia gafanhotos e mel silvestre, 7 e pregava, dizendo: Após mim vem aquele que é mais forte do que eu, do qual não sou digno de, abaixando-me, desatar a correia das sandálias. 8 Eu, em verdade, tenho-vos batizado com água; ele, porém, vos batizará com o Espírito Santo.
Neste trecho, vemos o caminho mais amplo e como ele prepara o caminho. Para este fim, João saiu da sociedade que ele deve condenar. O lugar onde fica não é Jerusalém, mas o deserto, porque este corresponde ao estado do coração humano. Os homens têm que deixar a cidade e vir até ele.
João está aqui fora do arraial, que é o sistema religioso que Deus estabeleceu, mas onde Ele não tem mais lugar. Ele batiza em um Messias vivo porque somente então os judeus podem participar das bênçãos prometidas associadas à vinda do Messias. Isso requer conversão primeiro e depois o batismo.
Todos aqueles que têm a atitude certa em relação a receber o Messias vêm a ele de seus arredores e confessam seus pecados. Para pertencer ao Messias é necessário sair do arraial e ir para Ele (Heb 13:13). Tanto o lugar onde está João – o deserto verso 4 – bem como a sua roupa e a sua comida, mostram que ele se separou da massa do povo (cf. 2Rei 1:8). Gafanhotos são animais limpos (Lev 11:22), e mel é o fruto da terra (Núm 13:27).
Ele não está se dirigindo à multidão aqui, mas dá testemunho de Cristo. A pessoa de quem ele é o mensageiro está muito acima dele. Apesar da enorme popularidade, vemos uma profunda humildade em João e a consciência de ser indigno. Sempre acontece quando vivemos na luz da presença de Deus.
Ele também reconhece que o batismo realizado pelo homem de quem ele é o mensageiro é superior ao seu batismo. Ele anuncia o Senhor Jesus como aquele que batizada com o Espírito Santo, o que aconteceu no dia de Pentecostes em Atos 2. Quem pode derramar o Espírito Santo desta forma não pode ser outro senão o próprio Deus. Aqui o batismo com fogo não é mencionado – como em Mateus 3 e Lucas 3 (Mat 3:11; Luc 3:16) – porque o Senhor prega o evangelho pela graça.
9 - 11 O batismo do Senhor Jesus
9 E aconteceu, naqueles dias, que Jesus, tendo ido de Nazaré, da Galiléia, foi batizado por João, no rio Jordão. 10 E, logo que saiu da água, viu os céus abertos e o Espírito, que, como pomba, descia sobre ele. 11 E ouviu-se uma voz dos céus, que dizia: Tu és o meu Filho amado, em quem me comprazo.
O Senhor vem de Nazaré na Galiléia, uma cidade desprezada (Joã 1:46). A terra da Galiléia é desprezada por se misturar com os gentios (Mat 4:13-15); os homens de lá falam um dialeto (Mat 26:73). Ele cresceu nesta região atrasada. Também neste aspecto, Ele não tinha aparência. O caminho de Deus o leva de Nazaré na Galiléia até o Jordão, porque lá Ele deve ser batizado por João. A partir dali, Ele começará Seu ministério.
No batismo, o Senhor Jesus toma o lugar de seu povo diante de Deus. Não tem nada a ver com pecado. No entanto, ao ser batizado, Ele mostra Seu desejo de se juntar ao povo que, sob a influência da Palavra, estão dando o primeiro passo na direção certa.
Ao sair da água, Ele imediatamente vê como os céus se abrem e o Espírito desce sobre ele como uma pomba. A palavra “imediatamente [ou logo]” aparece cerca de quarenta vezes neste evangelho. Esta palavra não indica pressa, mas sim ação imediata e um certo procedimento.
Deus mostra para Ele que abre os céus. A abertura dos céus ocorre apenas neste evangelho, que apresenta o Filho como o servo perfeito. Mostra a alegria total de Deus nAquele que se torna um com o povo arrependido em Seu batismo. O Senhor Jesus vê o céu se abrindo, isso acontece para Ele. O recebimento do Espírito também é para Ele pessoalmente porque Ele é pessoalmente digno. A pomba é o símbolo de pureza e paz. Recebemos o Espírito porque Ele nos tornou dignos pelo Seu sangue.
Depois, uma voz vem do céu, que é novamente dirigida ao Senhor pessoalmente. As palavras são dirigidas a Ele na terra. Antes disso, a voz (de João) saiu para o povo no deserto. Agora o Pai testifica sobre seu Filho quando o Espírito desce sobre o Filho. Deus mostra sua satisfação em seu servo (Isa 42:1). Aqui, a Trindade é totalmente revelada pela primeira vez.
Por meio do testemunho do Pai celestial de Seu Filho, ninguém pode interpretar mal Seu batismo como se Ele fosse um dos muitos pecadores que foram batizados. Este testemunho precede e apóia seu ministério. É destinado aos que estão por perto, mas é dirigido ao Senhor Jesus pessoalmente. É um encorajamento pessoal para começar seu ministério.
12 - 13 O Senhor é tentado no deserto
12 E logo o Espírito o impeliu para o deserto. 13 E ali esteve no deserto quarenta dias, tentado por Satanás. E vivia entre as feras, e os anjos o serviam.
Depois que o Senhor Jesus foi iluminado pela luz celestial, ele agora vai, levado pelo Espírito, à presença do príncipe das trevas. O primeiro ato do Espírito é conduzi-lo a uma área onde será provado antes de começar seu ministério público. Isso também acontece “imediatamente”, sem demora.
Ele também é “impelido”, o que indica energia e disposição de servir. Esta palavra sublinha o tremendo poder do Espírito que está à sua disposição como homem para que possa enfrentar os horrores do deserto onde Satanás o tenta. É natural para Ele estar perto de Deus, mas o amor e a obediência O levam para onde quer que o pecado nos tenha trazido, para a nossa libertação.
Quando o primeiro homem apareceu, o diabo tentou quase imediatamente – e falhou. Agora que o segundo homem aparece, ele também deve ser tentado pelo diabo. Marcos fala de “Satanás”, porque se trata de resistência que experimentará no seu serviço por parte deste inimigo, que nada poupa e ninguém. Em circunstâncias completamente diferentes das que Adão estava, Ele permanece firme. O primeiro homem estava em um paraíso, o segundo homem estava em um deserto. O mundo se tornou um deserto devido ao pecado do primeiro homem, e ali Satanás é o anfitrião.
Ele está “entre os animais selvagens”, animais que se tornaram selvagens pelo pecado humano. Eles reconhecem seu Criador Nele. Ele fechou a boca dos leões quando Daniel estava na cova com esses animais (Dan 6:22). Ele está com eles em majestade, ao mesmo tempo em que é o humilde servo. Vemos esse fato também nos anjos que vêm após a tentação a fim de servi-Lo. No Éden, os anjos se voltaram contra os desobedientes (Gên 3:24), aqui eles servem ao obediente.
Não estamos ouvindo nada específico sobre as tentações aqui, apenas o fato de que Ele foi tentado, as circunstâncias em que isso aconteceu, o resultado e que as tentações duraram 40 dias. O número 40 indica o tempo integral da provação. Satanás usa todas as suas astúcias, assim como mais tarde (no Getsêmani) usará todos os seus terrores para desviar o Senhor do caminho da obediência.
Temos a introdução à aparição do Senhor no trecho anterior (versos 1-3). É uma introdução breve, mas cheia da dignidade de sua pessoa. Encontramos lá quatro testemunhos:
1. O testemunho da palavra de Deus em duas citações: Ele é Jeová (verso 2-3).
2. O testemunho de João: Ele é mais do que João (versos 7,8).
3. O testemunho de sua glória pessoal como o Filho Amado, que é testificado em
--a. a descida do Espírito sobre Ele e
--b. o que o Pai diz Dele (versos 10,11).
4. O testemunho dos anjos: Eles O servem (verso 13).
14 - 15 O início do ministério do Senhor na Galiléia
14 E, depois que João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galiléia, pregando o evangelho do Reino de Deus 15 e dizendo: O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.
João se depara com a hostilidade do mundo. Ele, o Elias que havia de vir (Mal 4:5), sai de cena de uma maneira completamente diferente da que Elias saiu (2Rei 2:23). Este é o momento apropriado para o Senhor começar seu ministério público. A lâmpada acesa e brilhante (Joã 5:35) desaparece com o nascer da luz.
Primeiro, o Senhor prega o evangelho aqui. A força de sua palavra sempre se expressa em seu serviço. Percebemos isso quando sua palavra ressoa: “Vinde após mim” (verso 17). A Palavra faz com que quatro discípulos o sigam de uma vez. Ele então ensina os homens com autoridade (verso 22). Ele também fala com autoridade para que um espírito imundo possa sair (versos 25,27).
Ele prega que o reino de Deus está próximo. Ele, o rei deste reino, se apresenta. Veremos, no entanto, que o poder público deste reino está sendo adiado por causa de sua rejeição.
O governo de Satanás é visível no mundo. No entanto, já existe uma área onde o Senhor Jesus é Senhor e Mestre. Este é o reino de Deus em sua forma oculta. Embora o reino ainda não seja visível, ele ainda está lá, ou seja, nos corações daqueles que O aceitam como Senhor de suas vidas (Rom 14:17).
Outra lição importante reside na informação que João foi preso e que o Senhor Jesus imediatamente começou a pregar. Sempre que uma voz é silenciada, Deus sempre levanta uma nova voz para pregar seu evangelho. Estou pronto para ser usado quando o silêncio é imposto aos outros? Estou pronto para seguir em frente mesmo sabendo que a mesma coisa (possivelmente) me espera?
O conteúdo do sermão do Senhor não é diferente do conteúdo do sermão de João: O tempo se cumpriu para que o reino de Deus seja estabelecido porque o Rei está aí. A conversão e a fé no evangelho são necessárias para entrar no reino. No entanto, o poder do império não pode ser desenvolvido externamente; isso é adiado porque o pregador foi rejeitado. Mas ainda não chegou a hora. O Senhor começa pregando as boas novas de que Deus está instituindo seu reino, submetendo tudo à autoridade de seu Filho. Aqueles que são convertidos experimentarão que Deus fará com que tudo seja bom para o crente.
16 - 20 O Senhor chama os primeiros discípulos
16 E, andando junto ao mar da Galiléia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores. 17 E Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de homens. 18 E, deixando logo as suas redes, o seguiram. 19 E, passando dali um pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes, 20 e logo os chamou. E eles, deixando o seu pai Zebedeu no barco com os empregados, foram após ele.
Senhor deseja sucessores e colaboradores em seu ministério. Ele quer levá-los consigo para ver como ele faz seu trabalho e aprender com ele. Ele deseja moldá-los para que também possam proclamar as boas novas ao mundo à medida que o seguem. Os quatro discípulos chamados são diligentes em seu trabalho diário. O Senhor chama para o seu serviço pessoas que também arregaçam as mangas na sociedade.
Pedro e André estão pescando. Seu trabalho é uma figura impressionante para o trabalho que o Senhor os destinou a fazer: pescar no mar de povos. Assim, vemos que Pedro pescou 3.000 peixes no dia de Pentecostes (Atos 2:41).
O Senhor os chama para o seu serviço. Ele os havia chamado antes, quando ainda eram pecadores, para dar-lhes a vida eterna (Joã 1:41-43). Agora Ele deseja que sejam cooperadores em Seu serviço. Primeiro a conversão, depois o chamado para segui-Lo e aprender com Ele e, em terceiro lugar, vem o serviço independente. Tudo começa com “me seguir”. Isso significa, não diante Dele, mas estar bem perto Dele, para que possam ver e ouvir bem como Ele está fazendo seu ministério. É assim que eles e nós podemos aprender a servir.
O grande servo de Deus os chama, e imediatamente eles obedecem como servos subordinados a ele. Quando Ele chama, tudo deve ser deixado para trás. Não é por indiferença às suas posses, mas na confiança de que Ele cuidará do que foi deixado para trás.
Ele chama mais dois irmãos: Tiago e João. Eles estão ocupados consertando as redes. Esta é uma figura dos relacionamentos dos crentes sendo restaurados. Isso é reproduzido de forma impressionante em 1 Coríntios 1, onde a mesma palavra grega que é traduzida aqui como “consertar” é reproduzida como “sejais unidos” (1Cor 1:10). Esse será o trabalho deles mais tarde, como as cartas que escreveram deixam claro. Então agora eles vão para a escola com o Mestre. Vemos que os servos têm funções diferentes. Ninguém pode imitar ou substituir outro. Todos são necessários em seus lugares.
Com esses dois irmãos também, o chamado do Senhor é poderoso. Eles deixam seus relacionamentos familiares e sua profissão para segui-Lo. O chamado do Senhor está acima das conexões terrenas, sem, no entanto, desprezá-las no mínimo.
21 - 28 O Senhor cura um homem possesso
21 Entraram em Cafarnaum, e, logo no sábado, indo ele à sinagoga, ali ensinava. 22 E maravilharam-se da sua doutrina, porque os ensinava como tendo autoridade e não como os escribas. 23 E estava na sinagoga deles um homem com um espírito imundo, o qual exclamou, dizendo: 24 Ah! Que temos contigo, Jesus Nazareno? Vieste destruir-nos? Bem sei quem és: o Santo de Deus. 25 E repreendeu-o Jesus, dizendo: Cala-te e sai dele. 26 Então, o espírito imundo, agitando-o e clamando com grande voz, saiu dele. 27 E todos se admiraram, a ponto de perguntarem entre si, dizendo: Que é isto? Que nova doutrina é esta? Pois com autoridade ordena aos espíritos imundos, e eles lhe obedecem! 28 E logo correu a sua fama por toda a província da Galiléia.
Na passagem dos versos 21–39, vemos um dia na vida do Senhor: do início da manhã de sábado ao início da manhã de domingo. Para ele é um dia cheio de atividades, porque o pecado não lhe pode dar descanso (Isa 43:24; Joã 5:17).
No verso 16, lemos do Senhor “andando junto ao mar”. Aqui lemos que “entraram”, isto é, Ele e seus quatro discípulos, estão indo para Cafarnaum. Os discípulos recebem sua primeira lição aqui. Cafarnaum é “sua própria cidade” (Mat 9:1), a cidade onde viveu (Mat 4:13). Esta cidade tem uma grande responsabilidade em aceitá-Lo (Mat 11:23). Esta cidade é o centro do ministério do Senhor na Galiléia. Assim também outras cidades têm uma certa marca em conexão com ele. Em Belém, este é o seu nascimento, Nazaré é a cidade em que Ele cresceu e Betânia é a aldeia de seus amigos.
É sábado. O sábado é o dia de descanso, mas não para o servo. No sábado, o Senhor e seus discípulos vão à sinagoga. A sinagoga é o lugar onde a palavra é falada e interpretada. O Senhor ensina lá. Sua palavra está em vigor. Ele não prega teorias, mas a Palavra viva de Deus, que atinge corações e consciências.
Os escribas, com todo o seu conhecimento das escrituras, transmitem o conhecimento e colocam um jugo sobre os ouvintes. Eles não vivem de acordo com a Palavra, apenas querem mostrar seu conhecimento. O ensino deles é fermento. O Senhor não prega opinião, mas ensina com autoridade. O efeito disso não é fazer os ouvintes acreditarem imediatamente, mas sim que eles sintam o peso do que Ele está dizendo. Sua palavra sempre produz efeito (Isa 55:11). O que Ele diz, não começa com: “Assim diz o Senhor”, porque este é Ele mesmo.
A palavra de Deus deve ser falada com autoridade. Ele faz isso aqui como um servo. Falar com autoridade não é o oposto de ser humilde, a menos que haja dúvidas sobre os pensamentos de Deus. Os escribas representam apenas opiniões. O Senhor não precisa respaldar seus ensinos citando fontes de autoridades humanas, como fazem seus oponentes (Mar 7:7-8).
Ele não apenas traz palavras, mas fala palavras revestidas da autoridade de Deus. Não se trata apenas do que um servo diz, mas também de como ele o diz. Os homens precisam sentir que não é apenas interessante o que está sendo dito, mas que Deus está falando aqui. Os escribas falam de suas teorias, o Senhor fala com autoridade. Ele não fala de si mesmo, mas de Deus.
Ele vem com a autoridade de quem conhece a verdade que Ele está pregando. É a autoridade que realmente vem de Deus, daquele que pode tornar conhecida a verdade. Ele também fala como alguém que tem autoridade e dá as evidências apropriadas. A palavra que chega aos homens dessa forma tem poder sobre os demônios.
Onde o Senhor fala, o poder do mal não pode ficar oculto. O que é claramente de Deus sempre tornará o maligno ativo. Nos evangelhos, parece que todos os possuídos se reuniram em torno do Senhor. Eles sempre terão estado lá, apenas a presença da luz divina os traz à luz. Pela presença do Filho de Deus, Satanás é encurralado e desmascarado. Até certo ponto, podemos ver isso onde quer que o poder da verdade de Deus e Sua santidade estejam em ação.
Acontece na sinagoga “deles”, porque é aí que vale a autoridade do homem (os escribas). Sua sinagoga é governada por um espírito imundo; essa é a atmosfera que prevalece lá. Isso está diretamente relacionado ao ensino do povo. Um ensinamento de homens é incapaz de enfrentar um espírito imundo. O homem está “em um espírito imundo”, isto é, no poder de um espírito imundo. Isso está em contraste com estar “no Espírito Santo”. E quanto a nós? Estamos em um espírito imundo? Ele está no comando ou nós estamos no Espírito Santo para que Ele esteja no comando?
Os demônios reconhecem que não há conexão entre eles e o Senhor Jesus. Eles também reconhecem que Ele tem o poder de condená-los e que este é o seu destino final também. Os homens podem rejeitar os direitos de Cristo, os demônios não. No entanto, ele ainda não tinha vindo para destruí-los, mas sim para destruir as obras do diabo (1Joã 3:8). Os demônios confessam que Ele é o Santo de Deus. Eles não têm acesso a ele porque ele vive completamente separado (= santo) para Deus.
O Senhor não quer o testemunho de demônios (cf. Atos 16:18). Ele faz o que Miguel disse (Judas 1:9) e dá ordem ao espírito imundo. Ele também dá ordem para os ventos e o mar e a febre (Mat 8:26; Luc 4:39). Ele ordena que os demônios (há vários, que resultam das palavras “temos” e “destruir-nos”) saiam do possuído. Em nenhum lugar lemos que Ele tocou alguém que estava possesso, o que no entanto faz com pessoas fisicamente enfermas.
Esta é a primeira vez neste evangelho que Ele mostra Seu poder. Vemos o que é essencial para a bênção na terra, a saber, que Satanás seja expulso. Podemos comparar isso com o primeiro sinal que Moisés fez para provar seu chamado divino como libertador de Israel: Ele levanta a vara que se tornara uma serpente (Êxo 4:4).
Os demônios não desafiam a palavra do Senhor e saem. Eles obedecem ao seu comando; eles ficam em silêncio. No entanto, eles ainda fazem o possível para causar o máximo de sofrimento possível ao homem ao sair. Quando o diabo está para perder sua presa, ele ataca com mais violência e mostra seu verdadeiro caráter. Isso deixa claro que ele pretende corromper. Também lemos sobre expulsar demônios nos versos 34 e 39. O Senhor é o mais forte e rouba ao diabo os bens de sua casa (Mat 12:29).
A liberação é sempre acompanhada de contrações e gritos. Libertar-se é uma luta e envolve violência. Isso também se aplica a nós, se quisermos nos tornar espiritualmente livres para ser usados pelo Senhor. O verdadeiro ensino das Escrituras tira a impureza de nossas vidas e mentes, e isso pode doer enquanto estamos sendo libertos.
Os homens estão horrorizados. O que eles testemunharam é único. Eles não podem entender isso. Eles falam sobre isso uns com os outros, mas não vêm ao Senhor. Eles também descobrem que Ele traz um ensino que é completamente novo. Eles vêem uma grande diferença entre o que ouviram até agora e o que estão ouvindo Dele agora. As perguntas deles estão relacionadas à autoridade de suas palavras e seu efeito ativo sobre os espíritos imundos. Ao mesmo tempo, isso mostra claramente como a consciência de uma pessoa está endurecida. Fica com horror e perguntas.
Os milagres do Senhor não são apenas um sinal e evidência de força, mas também de bondade atuando no poder divino. Todas as suas obras são fruto do seu amor e testemunham o amor de Deus na terra. Se for aceito, fica estabelecido o reino no coração dos homens.
Tanto suas palavras quanto suas obras testificam da autoridade com que Ele ensina o povo. Devemos também garantir que as palavras que dizemos sejam confirmadas por nossas obras. Se não for, ou pior, se nossas obras estão em desacordo com nossas palavras, então nosso serviço é fraco ou em vão.
A novidade do maravilhoso atuar do Senhor espalhou-se rapidamente pelos arredores. É o assunto do dia.
29 - 31 O Senhor cura a sogra de Pedro
29 E logo, saindo da sinagoga, foram à casa de Simão e de André, com Tiago e João. 30 E a sogra de Simão estava deitada, com febre; e logo lhe falaram dela. 31 Então, chegando-se a ela, tomou-a pela mão e levantou-a; e a febre a deixou, e servia-os.
Depois de ensinar na sinagoga, o Senhor vai com Simão e André para a casa deles. Embora Seu lugar natural seja o seio e a casa do Pai, Ele não tem vergonha de permanecer com Seus pobres discípulos. Ele glorificou a Deus publicamente na sinagoga, e agora também o faz em particular. Os quatro discípulos guardam o sábado, mas pode ser mais sagrado do que na presença e companhia do Filho de Deus? É bom estar com o Senhor na congregação e também é bom quando Ele pode ir conosco quando voltarmos para casa após a reunião.
Assim como na sinagoga sua força para a libertação era necessária para um possesso, também é necessária na casa de Pedro e André. Febre não é o mesmo que ser possuído por um espírito imundo. Nem é figura de resistência ao Senhor como os demônios a pronunciam. A febre é um desperdício de energia prejudicial à saúde. É uma figura de inquietação e inquietação como resultado do pecado que torna a pessoa incapaz de servir.
A família torna sua necessidade conhecida ao Senhor. “... e logo lhe falaram dela.” Eles não adiam. Ele ouve e está acessível a todos. Essa é a atmosfera da casa, há calma e confiança.
Quando a necessidade é apresentada para Ele, Ele vai atuar. Nossa oração o faz agir. Ele tem contato pessoal com a pessoa que sofre. Ele não tinha isso com o possesso (verso 25), mas aqui e com o leproso (verso 41) e também com o cego (Joã 9:6), o mudo (Mar 7:33), com Malco (Luc 22:51), por o esquife (Luc 7:14) e com os discípulos no monte da Transfiguração (Mat 17:7). A mão do Todo-Poderoso é colocada sobre na fraqueza do homem. Ele é um Deus perto e não distante. Não apenas os demônios desaparecem, mas a doença não perdura quando Ele intervém. Depois da maravilha na sinagoga, há alegria na casa.
Como dito, a febre é energia desperdiçada e causa inquietação. Há muita atividade, mas nenhum resultado. A mão é impotente para o serviço. O Senhor pega a mão e ergue a mulher. Ele tira a inquietação e a torna capaz de servir novamente. Depois que a febre passa, nenhum tempo de recuperação é necessário, a recuperação é instantânea e completa. A mulher pode retornar imediatamente às suas tarefas domésticas habituais e servir ao Senhor e aos Seus discípulos.
32 - 34 O Senhor cura outros também
32 E, tendo chegado a tarde, quando já estava se pondo o sol, trouxeram-lhe todos os que se achavam enfermos e os endemoninhados. 33 E toda a cidade se ajuntou à porta. 34 E curou muitos que se achavam enfermos de diversas enfermidades e expulsou muitos demônios, porém não deixava falar os demônios, porque o conheciam.
É noite em um dia característico para a vida do Senhor. Ele é público e está ocupado com seu ministério nas casas (cf. Atos 20:20). Ele ensina e cura e está lá para todos que se voltam para ele. Em primeiro lugar, Ele se preocupa em fazer a vontade de Deus. Ele serve onde o serviço é necessário em qualquer forma.
Depois que a noite cai, o sábado acaba e o primeiro dia da semana começa, um novo tempo começa. O novo tempo também O mostra como aquele que serve. Não há mais casos especiais agora, mas em massa os que estão em necessidade vêm até ele e ele trabalha. Aqueles que não ousaram vir a Ele no sábado, estão vindo agora. O Senhor está dando uma grande recepção, por assim dizer, mas para Aquele que é mais do que Salomão, não há rainha de Sabá entre esses homens.
Não apenas aqueles que estão em necessidade vão a Ele, mas também todos os que trazem aqueles que estão em necessidade. Eles estão no endereço certo porque está na porta da casa onde Ele está presente para abençoar. Depois do serviço na sinagoga e na casa, há também serviço na cidade, em público, para todos. Ele é Jeová e está entre o seu povo como Aquele que “sara todas as tuas enfermidades” (Slm 103:3).
Enquanto está tão ocupado, não permite que os demônios falem. Ele nunca aceita o testemunho de demônios na terra. Um dia, quando eles forem forçados a dobrar seus joelhos e confessar que Ele é o Senhor, Ele aceitará seu testemunho (Flp 2:10-11).
35 - 39 O Senhor prega por toda a Galiléia
35 E, levantando-se de manhã muito cedo, estando ainda escuro, saiu, e foi para um lugar deserto, e ali orava. 36 E seguiram-no Simão e os que com ele estavam. 37 E, achando-o, lhe disseram: Todos te buscam. 38 E ele lhes disse: Vamos às aldeias vizinhas, para que eu ali também pregue, porque para isso vim. 39 E pregava nas sinagogas deles, por toda a Galiléia, e expulsava os demônios.
Depois de um dia em que trabalhou arduamente até a noite para o benefício de outros, ele procura o contato com seu Pai muito cedo (Isa 50:4-5). Só nisso encontramos o segredo da força e perseverança no serviço. Isso contrasta com a negação e rejeição do testemunho do espírito imundo e dos demônios nos versos 25 e 34. Seu poder não o leva à independência. Muito de nossa impotência se deve à falta de oração em silêncio. Embora seja o Filho de Deus, Ele busca sua força em Deus como um servo dependente na solidão.
Parece que Pedro e os outros pensam que esse tempo é na verdade um tempo perdido, a perda de um tempo valioso que não é usado. Eles sabem que há muitos que O buscam, e agora Ele não está mais lá. Eles estão cheios de zelo pelo Senhor, mas vêem apenas a necessidade externa das pessoas e não a necessidade interior da comunhão com o Pai, que é desfrutada na solidão. Seus discípulos também o veem como um rei e desejam que ele se apresente aos outros dessa forma.
Quando O encontram, dizem para Ele que todos estão procurando por Ele como se isso fosse um motivo para voltar. Como servos, corremos grande perigo quando todos nos procuram. No entanto, ele não busca reconhecimento público. Ele não busca o aplauso e a aprovação do povo. Ele tem que estar onde houver necessidade e não onde houver honra. Ele só quer fazer o que foi enviado para fazer, e isso é pregar. Ele também faz isso. Ele fala com autoridade e aparece com ela. Então, Ele prova que Deus está realmente entre eles em bondade e graça. E onde quer que Ele fale nas sinagogas, o diabo se revela e Ele expulsa demônios. Expulsar espíritos imundos e demônios faz parte de seu ensino e instrução com autoridade (verso 22). É apenas o efeito do que Ele diz (verso 25).
40 - 45 O Senhor cura um leproso
40 E aproximou-se dele um leproso, que, rogando-lhe e pondo-se de joelhos diante dele, lhe dizia: Se queres, bem podes limpar-me. 41 E Jesus, movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê limpo! 42 E, tendo ele dito isso, logo a lepra desapareceu, e ficou limpo. 43 E, advertindo-o severamente, logo o despediu. 44 E disse-lhe: Olha, não digas nada a ninguém; porém vai, mostra-te ao sacerdote e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou, para lhes servir de testemunho. 45 Mas, tendo ele saído, começou a apregoar muitas coisas e a divulgar o que acontecera; de sorte que Jesus já não podia entrar publicamente na cidade, mas conservava-se fora em lugares desertos; e de todas as partes iam ter com ele.
Alguém que tem um espírito imundo pode manter isso em segredo. Este espírito pode se expressar por meio de gritos e assim se dar a conhecer, mas não pode ser visto. Agora, alguém que é leproso vem ao Senhor. A lepra também é uma imagem de imundice. No entanto, essa impureza não pode ser mantida em segredo, mas é perceptível externamente por todos.
A lepra é uma imagem do pecado da obstinação que é exteriormente visível. Um leproso ilustra um pecador em quem a obstinação de uma pessoa irrompeu (ver Miriam, Núm 12:10; Geazi, 2Rei 5:27; Uzias, 2Crô 26:19). Só Deus pode curar um leproso (2Rei 5:7). Essa doença tem duas consequências: a primeira é que o leproso será excluído do serviço de Deus. A segunda conseqüência é que polui todos que entram em contato com ele.
Mas um leproso pode vir a Cristo. Este leproso acredita no poder que está no Senhor. Ele acredita que pode purificá-lo. No entanto, ele não tem certeza se deseja. Isso significa que Ele não tem consciência do amor de Cristo. Seus pensamentos sobre si mesmo escondem a grandeza do amor que o visitou.
A resposta do Senhor testifica de seu poder e misericórdia. Depois que o homem revelou seu desejo, o Senhor faz o que contaminaria qualquer outro: Ele toca o leproso. No entanto, isso não contamina o Senhor. Ele chegou tão perto do imundo que pode tocá-lo. O único puro entre os homens se aproxima do pecado e tira aquilo do que é um sinal dele. Ele tem prazer em eliminar a lepra.
O resultado vem imediatamente após Ele ter dito: “Eu quero”. O homem é “imediatamente” limpo de sua lepra. É sempre assim quando Deus fala. Aqui Deus fala ao homem abençoando. “Eu quero” refere-se a sua majestade e também a seu amor e compaixão pelo leproso. Aqui Ele diz isso com o objetivo de limpar o pecador de seus pecados. Em João 17, ele diz “Eu quero” novamente (Joã 17:24). Lá Ele o diz com vistas ao futuro de todos os que Lhe pertencem. Ele os quer com ele na casa de seu Pai.
Visto que o Senhor não busca a honra dos homens, o homem não deve alardear com sua recuperação. O Senhor lhe ordena estritamente. Por mais estrito que ele se expresse sobre isso, Ele é tão brando quando liberta o homem para a liberdade. No entanto, o homem curado ainda deve agir de acordo com a prescrição da lei. Por isso ele deve ir ao sacerdote.
O sacerdote, a lei, não pode purificar. Tudo o que ele pode fazer é determinar. Levítico 13-14 explica como lidar com isso em detalhes. O sacerdote deverá reconhecer a cura e dar testemunho de que Deus está presente em Cristo em poder e graça. A purificação do leproso prova que o Senhor é Deus.
O Senhor ainda reconhece a lei e a instituição de Deus com relação à purificação. Ele ordena ao homem que faça o sacrifício prescrito. O sacrifício fala da obra que Ele mesmo fará na cruz. Após a oferta, o leproso purificado pode viver sua vida no serviço do Senhor.
Apesar da proibição, o homem fala muito sobre sua cura e a divulga em todos os lugares. Ele é desobediente nisso, porque o Senhor o havia proibido. Para nós, entretanto, nosso testemunho faz parte de sermos salvos (Rom 10:9-10).
O aplauso dos homens é apenas um motivo para o Senhor Jesus se retirar. Quase não há nada que interesse e influencie mais os homens do que um milagre de cura. Os movimentos de cura modernos estão chamando muita atenção, apesar de não serem como as curas realizadas por Cristo. A maioria dos curandeiros também não foge do entusiasmo da plateia, mas realmente gosta dele.
Ao contrário desses curandeiros, o Senhor busca efeitos espirituais, não emoções. Ele é o servo dependente (orando), perfeito (retraído), obediente (pregador). Aqui ele se muda da cidade para lugares desertos onde ninguém vem, embora esteja sempre aberto ao pedido de todos os que precisam.